Um dos temas que volta e meia apareciam regularmente nos comentários era a da objectividade que uma pessoa teria que possuir ao escrever uma crítica sobre algo.
É óbvio que esse conceito é mais teórico do que prático. Todos nós temos as nossas preferências e é no meio delas que a “objectividade” terá que encontrar o seu caminho. Por cada conceito (objectivo) que queiramos usar (realização, argumento, banda sonora, fotografia, etc) há sempre uma carga pessoal subjacente. E isto tudo vem a propósito de “Twin Peaks” (cuja última temporada ainda não acabei) e em como eu me vi emaranhado na teia da subjectividade.
Fã das duas primeiras temporadas (sim, todos sabemos que depois do principal mistério ter sido revelado a série perdeu muito do seu élan), a série foi a minha porta de entrada para o universo de David Lynch. Depois dessa experiência, tratei de começar a desbravar a sua obra cinematográfica e em todas elas acabei por encontrar uma matriz com a qual me identificava (e ainda me identifico). Se há filmes que achei serem excelentes, outros há que desgostei mas no final a sensação de tempo perdido era inexistente. Afinal de contas era David Lynch, o gajo é maluco e faz coisas maradas. E aqui mesmo entrava alguma da subjectividade.
Ao ver a terceira temporada de “Twin Peaks” (no balanço da temporada lá falaremos em mais pormenor), é certo que sinto uma familiaridade da sua obra. Vê-se bem que ele tem carta branca para deixar a sua imaginação livre e perseguir o que lhe bem interessa. Perceber as suas metáforas é complicado por vezes e acredito que mesmo ele não saiba exactamente o que ele quis dizer com uma sequência ou outra. Por mais maluca que seja a execução ou a história, acabo sempre no mesmo beco sem saída: é David Lynch. Esta acaba por ser (quase) sempre a minha justificação. Mesmo quando acho um episódio mais seca ou estapafúrdio, acabo por lhe desculpar e seguir em frente. Se esta fosse uma série nova, de alguém desconhecido (ou feita por alguém que eu não aprecio) provavelmente já teria desistido da mesma. Já teria dito que o gajo não joga com as pedras todas e que não tinha tempo para tanto desvario intelectual (sem negar, no entanto, que a ficção precisa de pessoas assim. Que seca seria se todos seguissem as mesmas regras). E no entanto…cá continuo a assistir.
No fundo trata-se de canalizar o menos bom para a nossa subjetividade e o bom para a objectividade. E acho que todos nós acabamos por fazer isto uma vez ou outra. Não?