Stranger Things (T2): Mais do mesmo… e ainda bem

O texto que se segue CONTÉM SPOILERS

Com uma temporada de estreia de tremendo sucesso, “Stranger Things” tinha agora sobre si o peso do mundo que todas as séries que atingem a estratosfera de popularidade carregam. Mais do que simplesmente contar uma história, a responsabilidade agora era outra, uma que nem sempre é alcançável: não defraudar expectativas.

Mas como fazê-lo? Que elementos manter, que novos explorar, que outros eliminar? São várias as mudanças nesta segunda temporada e, no entanto, tudo parece igual. Não adulterar em muito o status quo parece claramente ser a receita do seu sucesso. Apesar de uma outra grandiosidade, sobretudo em termos visuais, muito provavelmente devido a um reforçar do orçamento, “Stranger Things 2” é mais do mesmo, e ainda bem.

Graças ao número limitado de episódios, esta segunda temporada parece apenas uma segunda parte da primeira e sente-se a série como um todo. À consistência da história junta-se o à-vontade dos pequenos actores que, agora mais calejados, enchem ainda mais o ecrã, enquanto os mais velhos continuam a demonstrar todo o seu empenho (Winona Ryder continua excelente e David Harbour continua a revelar-se como um diamante que estava por lapidar). Apenas se pedia que os personagens não estivessem tanto tempo separados. E que a Eleven nunca tivesse ido a Pittsburgh Mas vamos por partes.

Hopper & Eleven, a relação que se impunha

A dinâmica Hopper-Eleven é um dos pontos centrais desta segunda temporada e um dos seus elementos mais bem conseguidos. Estes dois personagens não partilharam muito tempo de ecrã durante a primeira temporada, mas a sua relação surge organicamente. Ele encontra nela a filha que perdeu e ela o pai que verdadeiramente nunca teve.

Will “rouba” o protagonismo

Com a história centrada no mistério do desaparecimento do Will durante a primeira temporada, este foi, de todos os personagens principais, aquele com menos protagonismo durante esse período da série. Agora, assumindo o papel de elo de ligação entre o “invasor” vindo do Upside Down e a nossa realidade, é no Will que reside a grande força da história. Uma boa oportunidade para Noah Schnapp mostrar o que vale, que não desiludiu.

Mike “perde” o protagonismo 

Sem o impulso de encontrar o Will e com a ausência da Eleven, o Mike acaba por ser relegado para um segundo plano. Basicamente, a segunda temporada do Mike é estar ao serviço dos outros, sendo uma espécie de âncora para o Will (é um dos pilares que previne o Will de ser totalmente consumido pelo Mind Flayer) e a Eleven (é um dos principais motivos para que ela regresse a Hawkins).

Hopper & Joyce & Bob, três vértices de um triângulo silencioso

A cumplicidade entre o Hopper e a Joyce é, desde sempre, notória. Que, mais tarde ou mais cedo, vão juntar estes dois romanticamente parece certo. No entanto, a série não tem muita pressa em fazê-lo, nem embarca numa abordagem espalhafatosa ao típico triângulo amoroso. Simplesmente, adiciona-lhe um Bob, um porto-seguro para a Joyce no meio de toda a insanidade, o melhor entre os novos personagens, mas rapidamente o despacha reabrindo a porta ao inevitável.

Dustin & Steve, o bromance improvável

Juntar estes dois foi simplesmente uma das melhores decisões da série. Um ex-“vilão” que caiu no goto e ganhou outro protagonismo junta-se ao menos convencional elemento do grupo dos miúdos, dois quasi-outcasts devido à divergência das diferentes linhas de argumento aparam-se numa amizade improvável regada de sentido de humor. Um dos pontos altos da temporada.

Nancy & Jonathan & Steve, o destruir de um triângulo que se começava a tornar insuportável

Se a relação entre o Hopper e a Joyce, à qual se juntou o Bob, é suportável pela sua naturalidade, o prolongar do romance a três entre a Nancy, o Jonathan e o Steve parece refém do típico mecanismo derivado da necessidade em prolongar histórias. Por um lado, as diferentes abordagens aos dois triângulos amorosos na série até pode ser visto como uma boa representação geracional. Por outro, não há pior que um ata e desata. Felizmente, parece definitivamente atado.

Lucas & Max, a relação proibida

Antecipando a separação prolongada da Eleven do grupo, a série decidiu injectar mais algum charme feminino como forma de compensação. E resulta. A rebeldia, um certo estilo de maria-rapaz, fá-la enquadrar-se com naturalidade e a sua relação com o Lucas não só é bem construída como toca num ponto crucial que a série não parece interessada em abordar profundamente, mas que estava enraízada (aliás, ainda está) na sociedade americana da altura e que não faria sentido ser ignorada.

Billy, o novo sacana de serviço

Definida pelos Duffer a necessidade de manter a presença de um vilão humano na série, recai no Billy essa responsabilidade durante a segunda temporada. Infelizmente, é um arquétipo e carrega consigo todo o tipo de preconceito que se possa imaginar. Enquanto o Steve ainda tinha algumas qualidades redentoras, tão vincadas que acabou por se tornar num dos personagens mais populares da série, o Billy serve apenas para antagonizar.

Punk Eleven e a quadrilha da Eight

Deixei para o fim o pior. Desde o momento em que foi revelada a tatuagem/nome da Eleven que a possibilidade de existirem, pelo menos, outras dez pessoas com capacidades semelhantes era plausível. Seria uma forma dos Duffer expandirem o universo por si criado além de Hawkins. Infelizmente, esse dia chegou logo no início da segunda temporada e com maior peso no sétimo episódio da mesma. Tal como menciono no início deste texto, “Stranger Things 2” triunfa porque não mexe muito com o status quo. É o núcleo de personagens que conhecemos desde o início que fazem da série aquilo que ela é e são as suas aventuras que se querem seguir, preferencialmente se estiverem todos juntos. Os restantes elementos (o Upside Down, os poderes à lá X-Men, a conspiração, a viagem nostálgica aos anos 80) são condimentos. Muito importantes na construção da história, mas condimentos. Quando a série opta por ignorar aquilo que a define durante um episódio inteiro, mesmo que o que aconteça nesse episódio tenha um impacto directo na história (é a sua roadtrip que permite à Eleven perceber que aquilo que realmente interessa está em Hawkins), sente-se um forte abalo nesse status quo.

4 opiniões sobre “Stranger Things (T2): Mais do mesmo… e ainda bem”

  1. Acabei de ver.
    Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.Tão bom.

    A minha única queixa é o pouco tempo que Eleven teve com o grupo e, apenas um pormenor é verdade, gostava de ter visto alguma amabilidade final entre Eleven e Max que passou o tempo todo a levar porrada de todo o lado menos de Lukas sem nunca ter, no meu ponto de vista, merecido tal.

    A cena com os punks percebe-se para nos dar a entender que existem mais, para El perceber como aumentar o seu poder e resolver a cena com a mãe que acaba por permitir maior aproximação a Hopper e ao restante grupo.

    Já há terceira temporada confirmada?

    Que série tão deliciosa. Os putos são fantásticos.

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  2. Vamos lá ver se é desta que consigo publicar o comentário 😁

    Terminei no último dia do ano esta excelente segunda temporada.
    Concordo com quase tudo, menos na análise ao Billy :D. Foi mal aproveitado? Sim, sem dúvida. Serve apenas para antagonizar? Em parte, muito por culpa do deficiente aproveitamento, até porque proporciona alguns momentos hilariantes. O diálogo com a mãe do Mike, quando esta sai da banheira, é priceless :D. Sempre que aparece em cena é acompanhado por uma excelente banda sonora, eheheh (MetallicA, Scorpions, Queen, Motley Crue, The Police, The Clash e por aí fora…). A relação com o pai podia ter sido mais aprofundada, já que o pouco tempo de antena que tivemos deixou água na boca.
    A adição da Max e do Bob foram muito bem vindas, pena o desfecho da segunda.
    O episódio 7 foi realmente o menos conseguido, embora perceba a sua inclusão.
    Excelente prestação do Steve, muito boa mesmo. O mesmo para o Hopper e Joyce. O quarteto principal e a 11 estiveram novamente em bom plano, apesar do menor tempo de antena para o Mike.
    Não gostei tanto da Nancy e do Jonathan este ano, não que estivessem mal, mas não me parecem ter brilhado tanto como no primeiro ano.
    Agora é esperar que mantenham a qualidade na terceira temporada 😀

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