“Legacy.so” é um episódio diferente do habitual pois preenche os espaços em branco que nos aguçavam a curiosidade provando que a série não está nem nunca esteve refém de Elliot.
O preenchimento desses espaços começam imediatamente após os acontecimentos do final da terceira temporada, mais concretamente o que aconteceu a Tyrell durante todo este tempo. Este surpreendentemente não sabe tanto quanto julgávamos e isso é uma informação interessante e aquele “bonsoir” para Elliot que soava a a autoritarismo é afinal um sinal de lealdade, ou melhor, esta existe mas para com Mr.Robot como ele vai perceber no final do episódio.
Esta jornada de Tyrell é bastante bem-vinda, mais do que preencher os espaços que não nos foram contados, estes minutos servem essencialmente para compreendermos melhor este homem e também o recém chegado Irving. A fundação de tal fidelidade provém da arma que o iria matar, no momento em que Mr.Robot ia disparar esta encrava, momento divino? Tyrell acha que sim, que é um sinal de que devem continuar juntos em prol deste plano ficando um laço para a vida.
O seu refúgio após o ataque e enquanto esperava por Elliot foi muito interessante , principalmente se gostarem da personagem, as suas interacções com Irving foram sempre muito boas principalmente aquela onde este apresenta um discurso motivacional carregado de mentira, mas o melhor mesmo foi o interrogatório onde ficou patente toda a fragilidade do personagem, inclusive ficou a pista sobre o seu pai, será um paralelismo com Elliot? Ele é um homem vencido pelo sentimento e pela dor por saber que falhou perante a mulher e o filho por ter dormido com alguém, pior, agora não está lá para eles e isso consome-o, a sua tentativa de fuga até ser apanhado pela polícia e o consequente partir do dedo, demonstra o quanto quer ficar com a família ao mesmo tempo que se tenta aproximar do mundo, principalmente de Elliot. Todas estas fragilidades demonstram um homem repleto de inseguranças e que usa uma máscara para esconder o seu medo de ficar só e de não se conseguir sentir integrado.
Irving tem vindo a conquistar o seu espaço e aqui demonstra todas as suas qualidades, tal como um camaleão é capaz de se transformar em quem quer que seja de forma a conquistar os seus objectivos, é perspicaz e como já sabíamos, tem o dom da palavra. “You make yourself whoever you need to be in order for the mark (sorry, “customer”) to feel like you’re on their side: “Make the sale.”, esta linha de diálogo demonstra cabalmente toda a sua perícia ao mesmo tempo que nos faz gostar ainda mais dele, interessante foi também perceber que a sua integração na narrativa é muito mais extensa do que se pensava.
Este regresso ao passado viu surgir personagens aliadas à Dark Army que não tínhamos conhecimento, falo de Cody, um apresentador de TV do qual ninguém se lembra mas que serve o propósito de transmitir os ideais da organização ou falsa propaganda, mas também o Agente Santiago, o chefe da Dom. Já se supunha que os tentáculos de Whiterose fossem bastante extensos, mas perceber que estão literalmente por toda a parte é entender a magnitude da personagem. Terá ele sido burro ao ponto de colocar Trump na Casa Branca, ou pensa que este será uma marioneta mais fácil de manipular?
Whiterose: “If you pull the right strings, a puppet will dance any way you desire.”
Depois da pobre da Darlene ficar completamente aterrorizada após o ataque de que foi alvo, ficamos agora a saber que ela nunca esteve em perigo e que Cisco estava no local errado à hora errada, ele que apesar de fazer de agente duplo, e contra todas as indicações de Irving, apenas queria uma vida normal com a mulher que amava. Se ela ficou assim sem ter a noção de tudo o que ficou para trás, nem quero imaginar a espiral de sofrimento que poderá cair sobre ela se esta tiver conhecimento de tudo.
Apresentar um episódio quase desprovido do seu protagonista pode ser fatal, mas Sam Esmail provou novamente a sua qualidade. Conseguiu inserir mais camadas em várias personagens que se tornaram ainda mais interessantes, ao mesmo tempo que preencheu vários aspectos que tinham ficado por esclarecer. Claro que nos podemos questionar se era preciso ir tão longe, e quanto a mim não e o facto de sabermos de sabermos o que iria acontecer retirou algum do impacto das várias revelações. Posto isto, chegou à altura da série dar um novo passo na narrativa, e com Tyrell prestes a saber da morte de Joanna, com a Fase dois em movimento e com Elliot infiltrado, o futuro só pode ser muito risonho. E o que dizer daquele plano final? Delicioso.
Angela: “You’re right. He sometimes can become a different person.”