“Lethe” é um puro episódio de caracterização de personagens, focando-se naquelas que são as duas principais de “Star Trek: Discovery”: Michael Burnham e Gabriel Lorca.
Por esta altura, a série parece apostada em fazer do Capitão Lorca o maior anti-herói que conseguir. Todas as histórias em que se vê envolvido, todas as decisões que toma, são como que uma infusão de conflito. É bom? É mau? Já o vimos tomar decisões difíceis de compreender numa perspectiva, mas noutra fáceis de perceber. Tomar as opções necessárias, ignorar as consequências ou simplesmente contorná-las. Rodear-se de pessoas que sabe que mais facilmente compreenderão as suas acções, como a Burnham ou o Ash Tyler, mas também porque sabe que lhe ficarão em dívida. E agora, perante a perspectiva de ser afastado do comando da Discovery, não se coíbe de manipular situações e pessoas para que tal não aconteça. Se outras das suas acções mais controversas teriam um fundo minimamente compreensível (quando optou por assassinar toda a sua tripulação em vez de os deixar reféns de um futuro terrível às mãos dos Klingons), aqui, sacrificando a sua superior e amiga de forma a não ser afastado da Discovery, revelam uma frieza próxima da psicopatia.
Por sua vez, um atentado a bordo da nave do Sarek e o seu consequente desaparecimento proporcionam uma oportunidade de conhecer outra faceta da Burnham. A história de como ela integrou a família era conhecida, o distanciamento existente justificável por ser característica vulcana, mas neste episódio raspa-se a superfície e revelam-se momentos definidores da relação entre os dois. Há vários tipos de família, nem todas presas por laços de sangue, no entanto, quando sujeitos a pressões externas, esses laços acabam por ser sempre os mais fortes. Perante uma escolha difícil, o Sarek naturalmente escolheu preservar o futuro do filho, Spock, sangue do seu sangue, mesmo que a aposta neste tenha sido desperdiçada (porque ele preferiu juntar-se à Starfleet do que ao Grupo Expedicionário Vulcano). A Burnham, no entanto, acha que não entrou no Grupo por incompetência própria. É a típica dinâmica familiar assente na ocultação de factos que facilmente criam equívocos, onde se tomam decisões para prevenir conflito e sofrimento, quando na realidade se está a gerar exactamente o que se pretendia evitar. É a natureza humana no seu melhor. E nem o Sarek lhe parece conseguir escapar.
Aquele momento em que te esqueces de ver um episódio e nada faz sentido… não sei como saltei este e passei para o 7, e estava a estranhar a maior importância dada ao Ash. Muito bom este episódio, ajudou a conhecer não só melhor o Ash mas também a Michael.
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