Aqui emparelhadas duas séries sem quaisquer papas na língua.
“Shameless” está de volta com a sua oitava (!) temporada: RIP Liam. “You’re the Worst” lá continua a sua queda no ridículo.
Ao contrário de “Shameless”, que teve na quarta temporada aquela que ainda hoje considero como a sua melhor, “You’re the Worst” tem na sua equivalente a mais fraca temporada até à data.
Shameless: 8×01 – We Become What We … Frank!
Recentemente renovada para uma nona temporada, a versão americana de “Shameless” não exibe quaisquer sinais em querer abandonar o panorama televisivo tão cedo. Se apresenta sinais de desgaste? Sem sombra de dúvida. As personagens encontram-se num loop de más decisões há vários anos, alimentando a ideia de ser impossível uma evolução de carácter. Ainda que bastante desequilibrada na qualidade, a sétima temporada conseguiu transparecer uma aura de transformação irrevogável. Já aqui abordei a mudança de postura da protagonista feminina. Já aqui elogiei a decisão de eliminar definitivamente a matriarca ausente dos Gallagher. Se é certo que “Shameless” se desgasta ano após ano, a verdade é que a morte de Monica se sentiu como ponto de viragem de louvar. Com base no episódio de estreia, a presente temporada irá atentar nessa quebra de ligação com a mulher que em nada lhes foi mãe. Têm aqui uma hipótese para que a série volte a ser a lufada de ar fresco que outrora foi.
Infelizmente, largando o motivo da temporada anterior e fechando os olhos às perspectivas de um possível luto, o primeiro episódio é parco em momentos de interesse. A metamorfose gradual de Frank (William H. Macy) que aqui se prenuncia? Em plena oitava temporada, dir-se-ia necessária para uma narrativa dormente. Tratando-se de “Shameless”, há a grande possibilidade de não ser mais que mero fogo de vista.
No pólo oposto, Fiona (Emmy Rossum) continua a desprender-se dos velhos hábitos. Renega a fugaz gratificação sexual em detrimento de conexão, como que em jeito de resposta à morte da mãe. Pilar de “Shameless”, Fiona é concebida com inúmeros altos e baixos, promessas de mudança e posteriores quedas nos mesmos erros. Algo parece ter mudado na temporada anterior no que toca à postura da personagem, deixando sempre no ar a pergunta: até quando? Por muito humana que possa ser essa infindável recaída, “Shameless” merecia sair desse marasmo que lhe foi constante em grande parte do percurso. Enquanto não regredir, Fiona continua a ser a personagem mais cativante para acompanhar. Será que num momento de desespero por dinheiro, a iremos ver a desenterrar a mãe para reaver a droga? Sem dúvida que encaixaria no ADN da série.
Numa nota final, não é que finalmente arranjaram um actor para interpretar Liam? Não mais aquela pedra ausente de qualquer expressão facial. Por muito estranha que seja a mudança, temos agora um actor que, imagine-se, tem linhas de diálogo minimamente credíveis na entrega.
You’re the Worst: 4×11 – From the Beginning, I Was Screwed
Antes do episódio duplo que irá encerrar a temporada, “You’re the Worst” entregou mais um capítulo desequilibrado na qualidade e que compensa pelo instante final. Repentino, é certo, tendo em conta que ambos os protagonistas pouco se cruzaram no decorrer da temporada, mas que relembra a passagem de tempo como característica para um casal que se mostrou bastante atípico desde o início. Nada se resolve naquele instante, apenas se sucumbe à saudade e ao confortável. A química continua presente por inteiro, a excelente troca de diálogos idem. Não deixa de ser de louvar que falem tão abertamente entre si sobre as tentativas sexuais com outros parceiros.
Edgar (Desmin Borges) abraça o seu passado como veterano de guerra, apenas para mais tarde se ver renegado por isso. Uma amizade pobremente trabalhada, que acaba por não ter o impacto devido quando finda. Serve mais o propósito de anular a personagem, fazê-la sentir que ambas as facetas não podem coexistir. A amizade de um narcisista Jimmy (Chris Geere) é o máximo que pode almejar?
A escrita que ronda Lindsay (Kether Donohue) é tudo menos subtil. Foi preciso trazer Paul (Allan McLeod) para lhe ser atirado à cara que as suas acções têm repercussões naqueles que a rodeiam. A quarta temporada arranca de Lindsay uma epifania atrás de outra.
O que resta? Uma hilariante prestação de uma Gretch (Aya Cash) francesa, que poderia muito bem ser selo de apresentação da irreverência da personagem.
Shameless. Que saudades. Uma das séries que mais gosto. Sim, reconheço esses altos e baixos e reconheço algumas linhas narrativas fracas, mas no geral, é mesmo muito bom. Espero sinceramente que não puxem o tapete à Fiona agora que ela começa a endireitar a sua vida, a ter algum conforto financeiro, etc.
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Já há alguns anos que não sou assim tão entusiasta quanto tu, mas depois de uma 5ª temporada tremida e uma 6ª que considero sofrível, recuperou um pouco na 7ª com mudanças significativas. E se há algo que continuo a adorar em “Shameless” é mesmo a química entre as personagens, tão “fácil”, tão genuína, chega a parecer documental quase. Ainda que agora estejam mais dispersos uns dos outros, essa química ainda lá se mantém. E claro, continuo a gostar imenso de acompanhar a Fiona 🙂 Talvez por isso também compartilhe desse receio, não só por gostar bastante da personagem mas porque já a fizeram regredir inúmeras vezes no passado. Estou sempre ansioso com a possibilidade de que o voltem a fazer. Por enquanto, parece continuar bem encaminhada.
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Finalmente um novo Liam! Já não se aguentava aquele pobre “mono”. Curiosa para esta temporada!
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