Intensidade a todos os níveis.
Se “runtime” foi um episódio intenso mas somente focado em duas personagens, este “Kill-Process” foi-no ainda mais, conseguindo a proeza de criar um ambiente tenso que foi transversal a todas as personagens. O episódio foi uma aula de realização, soberbamente bem estruturado e principalmente editado, ao mesmo tempo que nos deixava sem fôlego.
Tal como se previa, o confronto entre Elliot e Angela fez jus às personagens, intenso e carregado de sentimento e raiva, a incredulidade de um contrastou com a crença do outro. A traição dela é revelada como um murro, mas para ela este é o caminho, e depois da cena inicial onde a mãe lhe revela que se vão encontrar, esse percurso é mais facilmente compreendido, interessante compreender como é que dois amigos estavam tão próximos até à pouco tempo se encontram agora em pólos tão distantes.
A corrida contra o tempo de forma a parar o plano da Dark Army foi simplesmente magistral. A luta de Elliot com Mr.Robot foi do melhor que a série já proporcionou, para cada avanço existia um recuo, as acções eram canceladas a um ritmo frenético com corpos a serem jogados contra a parede, pancadas em tubos, tudo serviu para condicionar o adversário, noutras séries tudo isto poderia parecer patético mas não aqui, com deterioração do tempo a ser a cereja no topo do bolo. Tudo isto foi editado de uma forma primorosa o que fez elevar a tensão. Com a comunicação entre os dois a explosão foi travada e Robot ficou a perceber que foi, tal como todos, um mero peão nas mãos de Whiterose. Peão porque na realidade o edifício não continha documentos em papel, tudo não passou de uma manobra de diversão para a destruição massiva de todos os outros edifícios da E-Corp. A morte de inocentes foi sempre um problema para Elliot e a sua cara de terror no final demonstra isso mesmo, agora que tem um objectivo irá o “pai” juntar-se a ele?
Elliot: “What about Mr. Robot? Does he now understand that Tyrell and the Dark Army have corrupted his alleged revolution? Does he have any fight left? If so, who’s he gonna fight? Them or me?”
A cegueira de Angela é palpável, mas vai perdurar até quando? Para já perdeu o melhor amigo sem que isso a tenha feito desviar do seu objectivo e da crença de Whiterose em voltar atrás no tempo de forma a voltar a ter a mãe e o pai de Elliot. Mesmo com a chegada furiosa de Darlene, ela continuava como que envolvida numa bolha crente que ninguém iria morrer, a cegueira dura até ao último instante até perceber que também ela tinha sido enganada e que morreram milhares de pessoas. Apesar do choque irá ela voltar as costas ao seu mentor? Creio que não, que apesar das baixas ela continuará a acreditar que foi tudo em prol do seu sonho e que assim que este se concretize todas as pessoas reaparecem, além disso acredito que ela continuar do lado dele é a melhor opção narrativa.
“Darlene: You fucked us. Bent us over the sink and went to town.
Angela: You’re not making any sense. We’re on the same side.”
Dom não tem sido alvo de grande destaque nesta temporada, mas teve aqui uma excelente cena (das melhores da temporada) bastante intensa que nos deixou colados à cadeira. A sua descida à cave, e tudo o que a antecedeu, foi muito bem realizada. O fumo contribuiu e muito para tornar aquele ambiente ainda melhor deixando-nos sempre na dúvida se o próximo passo dela seria o último. Estaria Tyrell pronto para a matar ou era a Dark Army? Até ao instante final as dúvidas na sua cabeça e na nossa eram muitas, ainda para mais sabendo ela que Darlene lhe esconde o seu plano com Elliot e que Santiago demonstra um comportamento bastante suspeito.
Tyrell continua a ser manipulado, ainda assim menos do que nós. Após a conversa com Irving, pensei que as instruções eram sobre cometer suicídio. Aquele “I’m sorry” era referente ao que está para vir ou será sobre Joanna? Está ele consciente de que é um peão e que o seu sonho nunca se irá realizar e aquela fuga serve como uma redenção, ou estaremos a ser direccionados num sentido quando na realidade tudo o que vimos faz parte do plano para o ilibar provando que ele era um refém? Acredito na última possibilidade e se assim for é uma excelente ideia matando dois coelhos de uma cajadada só. São estas incertezas que tornam a narrativa da série tão interessante, nunca nada é o que realmente parece, não devemos acreditar que a Esmail vai numa direcção porque no instante seguinte pode trocar-nos as voltas.
Agora que caminhamos a passos largos para o final da temporada é gratificante perceber que não sabemos exactamente qual será o próximo passo, não temos a certeza sobre para onde se dirige a série nem em que posição se encontram as peças do xadrez e esse feito à terceira temporada não está ao alcance de todos.