A adaptação de um dos mais emblemáticos romances de Elmore Leonard.
Aviso prévio: “Get Shorty” já foi previamente adaptado para cinema nos anos 1990, numa bastante simpática adaptação, na qual o principal papel fora interpretado pelo, agora pouco amado, John Travolta. Foi pelas recordações simpáticas do filme que abordei esta adaptação ao formato mais expandido e, desde logo, a minha avaliação está inquinada por essas recordações assim como pela comparação.
E comecemos logo pelo que interessa. As diferenças são muitas – como seria de esperar – e a série perde para o formato cinematográfico.
O plot: um cobrador de dívidas e moço de recados de um criminoso tem que cobrar uma dívida junto a um produtor de cinema, indo a Hollywood para tal. Pelo caminho, deixa-se seduzir pelo modo de vida de Hollywood e pelo sonho de ser “alguém” e envolve-se na produção de um filme. A partir daí…
Não é má, antes pelo contrário. É bastante recomendável, bem feita, interpretada e, na realidade talvez seja melhor que o filme, porque é mais realista. Confusos? Tentarei explicar.
O filme era resultado de uma década onde ainda imperava alguma inocência. Onde todos tinham a sua oportunidade para ascender e encarava-se o futuro com esperança. Era um filme cool, na qual os personagens tinham estilo mesmo no meio da desgraça e um sentido de humor muito aguçado.
A abordagem televisiva é, por sua vez, igualmente reflexo destes tempos. Mais dura, crua, pesada. Enfim, mais realista. Mas por isso mesmo, pouco traz de novo, visto ser essa a tendência das séries actuais de um neo-realismo mais perto do ultra-realismo do que outra coisa.
Talvez imite a vida; talvez a sublinhe de forma excessiva. O estilo da câmara, as interpretações falsamente blasé e sofrida, o grafismo da violência, a crueza da linguagem e a acutilância das palavras e da escrita da história, são imagem de marca da boa ficção.
Mas hoje, estamos cheios de boa ficção. Este é o patamar mínimo. Como espectadores aspiramos a mais e, quando não conseguimos muito boa ficção, então, que a boa seja refrescante.
Vale a pena? Sim, vale. Já foi renovada para uma segunda temporada. Mas leiam o livro e vejam o filme.