“Shutdown” efectua neste final de temporada um “reset” à história, uma espécie de regresso ao passado.
Antes de se saber que “Mr.Robot” tinha sido renovada para uma quarta temporada, quase que poderíamos afirmar que este final serviria perfeitamente como um término para a série tal foi a sensação de encerramento que nos assolou no final do episódio.
Após vários episódios a teorizar sobre viagens no tempo é Elliot quem a “realiza” quando desfaz o hack fazendo com que tudo voltasse à estaca zero, e ao contrário do que se esperava, não foi Romero quem conseguiu as chaves mas sim Robot, tudo porque ao contrário do que sempre se pensou ele é muito mais Elliot do que parecia, é uma manifestação do seu ser. Saber isto e que foi Elliot que se atirou da janela após uma ataque descontrolado foi muito interessante, ele sempre teve receio do seu némesis mas agora sabemos que foi tudo infundado, eles são parte do mesmo ser logo pensam de igual forma e Robot nunca deixaria que o ataque tivesse ocorrido, estes novos dados sobre o personagem são bastante gratificantes, pois não só é benéfico para a história como demonstra a a capacidade para evoluir numa altura em que parecia que estava quase tudo contado, posto isto eles podem finalmente formar uma temível equipa para derrubar Whiterose. Destaque ainda para aquele plano final, idêntico ao da primeira temporada a provar a qualidade da realização e que está sempre atenta aos detalhes.
Elliot: “They won’t win. Because one good thing came out of all this. They showed themselves. The top 1% of the 1%. The ones in control. The ones who play god without permission. And now I’m gonna take them down. All of them.”
A luta interior de Angela está ao rubro e ao contrário do que se julgava ela não está com Whiterose mas sim com Price. Numa altura que a sua vida está de cabeça para baixo, onde habitam dúvidas mas onde resta a esperança assente na crença de que voltará a ver a sua mãe, infelizmente para ela tudo ia ruindo à medida que Price ia falando. O olhar dela era mais revelador do que as parcas palavras, o seu desespero e horror eram palpáveis a cada sílaba, ela foi manipulada, usada e abusada em prol de um plano maior, ou como revela Prince, o plano passava só por o derrubar. Ela acreditava(eu ainda acredito) que o plano estava relacionado com as viagens no tempo, mas num ápice tudo se transformou em pó. O ser-se usada como um objecto é bastante doloroso, mas ver o seu sonho ruir é talvez ainda mais. Para completar com a cereja no topo do bolo, o homem que lhe revela tudo e lhe dá o melhor conselho que ela pode ter,“Find a way to live with what you did.” é o seu pai biológico, algo que faz todo o sentido e explica o porquê da sua obsessão.
Angela vira assim uma página na sua vida, o turbilhão de emoções que viveu não será fácil de apagar, mas é com os erros que se aprende e espero que ela consiga encontrar o seu caminho e quem sabe, juntar-se a Elliot. Palavra ainda para a actriz que teve aqui a sua melhor interpretação, simplesmente excelente.
Dom, que sempre se regeu pela sua ética profissional e até moral, é jogada para o ponto mais baixo da sua vida. É capturada por Santiago e é espectadora de uma das cenas mais brutais dos últimos tempos no panorama televisivo. Tudo o que se passou na quinta é digno dos melhores thrillers, a sensação de claustrofobia é angustiante e a incerteza quanto ao futuro de alguns personagens era constante, a cada passo o nosso coração palpitava mais forte para perceber o que ia acontecer e isso criou uma excelente atmosfera. No final Dom passa a ser a infiltrada no FBI, o que a deixa completamente devastada, tudo o que sempre acreditou e batalhou cai assim, sem apelo nem agrado. A sua desolação é arrebatadora e culpa o elo mais fraco, Darlene, porém ela não tem culpa do que lhe foi retirado, mas na hora da perda da sua identidade o alvo fácil era ela.
Irving que tem o dom da palavra, teve aqui algo que até agora ia contra a sua natureza e na sua ausência surge uma violência extrema que era algo que já nos tinha insinuado. A brutalidade com que matou Santiago fica retina, a violência crua e sem qualquer tipo de remorso diz-nos muito sobre este homem, o seu olhar maquiavélico é algo que quero voltar a ver na próxima temporada, até lá ele vai passar férias.
Quando tudo parecia estar perdido, não que a vida de Elliot alguma vez estivesse em causa, Leon mata os capangas deixando Grant desamparado. Com a revelação de que Elliot poderia ajudar Whiterose a enviar as suas caixas para o Congo, Grant deixa de ter a relevância que tinha outrora, além disso a sua pequena rebeldia já indicava que ele poderia não sobreviver. Não que White não gostasse dele, gosta ao ponto de lhe dizer que voltam a estar juntos assim que estiver tudo concluído, apenas que este seria uma pedra na engrenagem rumo ao objectivo final. “Take care of her” , palavras proferidas por Grant antes do suicido avisam que ele compreendeu o seu lugar junto de quem ama e acredita piamente de que se vão voltar a encontrar. Tudo isto parece indicar que Price está errado e que o grande plano de Whiterose é mesmo a viagem temporal, senão que sentido faria toda esta conversa além de todas as pistas dadas ao longo da temporada? Se a história não for nesse sentido suspeito de que não irei gostar.
Elliot:” Part of me will always be part of you.”
Para acabar em beleza nada como ver o regresso de Vera, o personagem deixou saudades e estou em pulgas para ver o seu confronto com Elliot que quererá certamente vingança, porém este não sabe que o herói se encontra muito melhor mentalmente, logo parte em desvantagem.
Este final apesar de alguma previsibilidade, tem muito para oferecer, desde acção, passando por períodos de pura adrenalina, mas o que fica mais na retina são as relações e o que movimenta cada um dos personagens. A série conseguiu não só desenvolver uma relação que parecia já não ter mais nada para dar, como teve o engenho de fazer o espectador ficar ansioso por ver para onde a narrativa caminha. E a quarta temporada que nunca mais chega.
Mr Robot é daquelas séries que temos de ver com toda a atenção pq o minimo detalhe que nos escape será importante num futuro próximo.
Grande série, grandes interpretações.
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Para mim é uma das melhores séries de sempre em todos os níveis. É fenomenal a maneira como tudo está relacionado e tratado ao mínimo detalhe.
Obrigado por mais esta review espantosa.
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Excelente, parabéns pelas reviews 😀
Depois de ter iniciado a temporada há imenso tempo, finalmente tive tempo para ver tudo em dois dias 😀
Apesar da temporada ter tido alguns momentos mais mornos, teve alguns episódios de excelência, principalmente o 5 (incrível realização) e o 6. Várias personagens cresceram ao longo desta temporada (Darlene e Dom à cabeça), mas é o Elliot/ Mr. Robot quem mais brilha. Tenho pena que nos tenhamos despedido tão cedo da Joanna, era uma das minhas personagens preferidas.
A cena da quinta neste último episódio é verdadeiramente brilhante. Sem palavras…
Ansioso pela próxima temporada.
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