Ainda de ressaca, dois dias depois? Estudos indicam que a melhor cura são listas.
Spoiler alert: Não vão encontrar “Game of Thrones”.
Permitam-me a batota ao repetir duas séries. Ficam de fora episódios como “Hang the DJ” (Black Mirror) e o experimentalismo do oitavo capítulo de “Twin Peaks”, por não ter ainda terminado as respectivas temporadas. Ausentes séries como “The Americans”, esse meu amor sempre constante na qualidade mas que este ano não exibiu nenhum episódio de especial destaque, e “Legion”, ao ver-me incapaz de escolher entre os delírios dos episódios 5, 6 e 7.
10. Room 104: 1×06 – Voyeurs
Sem tempo a dedicar à série, essa novata que se viu amálgama a inúmeros géneros? Aventurem-se então nesta pequena meia-hora a solo. O sexto episódio de “Room 104” livra-se da fala e conta tudo através da dança. Fascínio que planta a vontade de um revisitar, na tentativa de (re)ler as entrelinhas do movimento dos corpos. Soberba montagem num crescendo de intensidade. Banda-sonora escolhida a dedo. Aborda-se a passagem do tempo, irreversível nas grandes decisões que nos moldam o percurso. Um dos mais únicos episódios de 2017.
9. Rick and Morty: 3×07 – The Ricklantis Mixup
“Pickle Rick” pode ser um dos mais referidos episódios de 2017, com a forte possibilidade de vir a ser objecto-alvo de culto com o passar dos anos, mas é nesta sétima aventura que a série exibe genialidade na escrita. Referências atrás de referências fazem deste episódio uma ininterrupta experiência de nos deixar com o sorriso no rosto. De realçar que o melhor episódio da temporada não contempla o Rick e Morty originais, rondando assim as infinitas variâncias. Episódio a revisitar uma e outra vez.
I wish incest porn had a more mainstream appeal. F…for a friend of mine.
8. Better Call Saul: 3×05 – Chicanery
A imagem escolhida para ilustrar o melhor episódio exibido por “Better Call Saul” em 2017 (talvez até mesmo o melhor da série até à data?), não é menos que um dos mais belos planos de uma série que prima continuamente pela fotografia. O apogeu e queda de uma personagem num só enquadramento. A construção do episódio é exímia no gradual inverter de papéis e posturas das personagens que ali se confrontam. A queda por via da perda de credibilidade, num clímax de loucura brilhantemente interpretado por Michael McKean.
7. Master of None: 2×08 – Thanksgiving
Se há alguma verdade absoluta no panorama televisivo é a de que os pais de Dev são excelentes actores! Brincadeiras aparte, ainda para mais num episódio que não os contempla de forma alguma, “Thanksgiving” é mais um magnífico exemplo das pequenas histórias a que “Master of None” consegue dar um princípio, meio e fim no curso de mera meia-hora. Poderiam aqui figurar outros tantos episódios, não tivesse a segunda temporada elevado a fasquia para a série. “First Date” como hilariante ensaio sobre o romance moderno. “New York, I Love You”, episódio conduzido por completos estranhos à narrativa. A química quase palpável entre Dev e a belíssima Francesca em “Amarsi Un Po'”.
Por mais voltas que dê, regresso sempre a “Thanksgiving”, essa autêntica fatia de vida que dispõe raça e orientação sexual sem resvalar para o didáctico. Ano após ano, testemunha-se a evolução bem como gradual aceitação. E convenhamos, Angela Bassett é sempre um trunfo.
Tão cedo não esqueço esta pérola: NIPPLES AND TOES 23! NIPPLES AAAAND TOES 23!
6. Room 104: 1×05 – The Internet
Louvemos a escrita do multifacetado Mark Duplass. Em qualquer outra série seria arriscado incorrer num episódio em torno de um mero telefonema. Em “Room 104” surge como experimentalismo orgânico. Um só corpo habita o quarto de hotel. Interage com a voz da mãe, essa que se encontra ausente no corpóreo e que ainda assim preenche cada milímetro do espaço. Uma voz quase palpável, dona e serva do espectro de emoções díspares. Espaço limitado, quase claustrofóbico, que tão bem ilustra a impotência da personagem face à sua própria situação. “The Internet” mostra-se choque entre gerações, mentalidades, posturas de vida.
5. BoJack Horseman: 4×11 – Time’s Arrow
Se no decorrer da primeira temporada me dissessem aquilo que “BoJack Horseman” viria a atingir nos anos seguintes, mandá-los-ia dar uma volta. Como? É um homem-cavalo, pelo amor de deus! A verdade é que a série não receia em fazer bandeira do existencialismo, promessa que me chamara para a série em primeiro lugar e que vejo como cumprida. “Time’s Arrow” exibe o passado como fractura da memória. Recua, avança, recua, avança. Entramos na memória distorcida da mãe de BoJack (os rostos sem feições algumas) e aquilo que se testemunha é uma autêntica descida aos infernos. O choro da criança ao ver a sua boneca atirada para a lareira. O olhar final, já no lar de idosos, da mãe a contemplar o pequeno cenário de felicidade inventado pelo filho. De partir o coração, como já vem sendo hábito no penúltimo episódio da temporada (o desabafo “I wanna be an architect” ainda mexe comigo).
Can you taste the icecream, Mom?
Oh, Bojack…It’s so…delicious.
4. The Handmaid’s Tale: 1×03 – Late
Blessed be the fruit.
A par com “Certified” (The Leftovers), irei relembrar “Late” como a mais dolorosa hora televisiva de 2017. Um autêntico murro no estomâgo, ininterrupto no quanto nos faz odiar o ser humano e do que este se revela capaz. A cena na carrinha (basta a diminuta designação para a reavivar na memória, certo?), revela-se absolutamente doentia. A banda-sonora que a acompanha não menos diabólica. “The Handmaid’s Tale” dá o salto no seu terceiro episódio. A partir daqui não mais deixaria de fazer papa das emoções do espectador. A mais cruel série de 2017. May the lord open.
3. The Leftovers: 3×06 – Certified
Com a derradeira meta a aproximar-se, não pensava haver ainda tempo e espaço para um episódio inteiramente focado naquela que até ao fim se manteve como uma das melhores personagens concebidas por “The Leftovers”. O antepenúltimo episódio da série foi odisseia à perda gradual da racionalidade como bússola a Laurie. Numa só hora conta-se tudo sobre esta personagem por demais complexa. A última cena? Devastou-me por completo. Sim, “The Leftovers” é palco à colossal Carrie Coon. No entanto, nunca cair no erro de esquecer aquilo que Amy Brenneman conseguiu no curso da série. O seu rosto conta tudo com o mais subtil esgar. O contracenar de ambas é no mínimo memorável. O magnífico (!) monólogo de Nora (beach ball) e a resposta de uma Laurie que lhe limpa as lágrimas. A despedida a transbordar de significado: Same time next week?
2. Fargo: 3×03 – The Law of Non-Contradiction
I can help.
Se é provável que seja a mais inconsistente temporada de “Fargo” até à data, a verdade é que no seu terceiro episódio revitaliza a série e acerta na muche. Já aqui lhe escrevi a carta de amor e pouco há a acrescentar. Um daqueles episódios que só surgem uma vez na vida e nos arrebatam por completo, assegurando assento confortável na memória. Uma vénia para a (des)construção de Gloria Burgle, uma das grandes personagens de 2017. Aqui na sua viagem a solo, distante do branco de “Fargo”.
1. The Leftovers: 3×08 – The Book of Nora
Sem o ter como motivo de escolha, o pódio acaba por resultar como ode a Carrie Coon. A televisão de 2017 “dobrou o joelho” diante desta.
Com apenas 28 episódios, “The Leftovers” vira-me costas como a série que mais emoções cruas me arrancou. É realmente complicado dispor tamanho fascínio em palavras, ridiculamente parcas em significado. O grande amor. Tudo o mais são restos.
Estás perdoado, pelo menos no que toca a The Leftovers, já que Room 104 não conheço mesmo nada 😀
Sobre The Leftovers não há mais nada a acresentar (daquelas séries que vou querer rever o quanto antes).
Esse episódio de Fargo é fabuloso, e concordo quando dizes que pode ter sido a temporada mais irregular, mas atingiu níveis de qualidade sublimes.
Sinceramente não sei qual foi o episódio mais brutal de The Handmaid’s Tale, mas esse momento que referes nunca mais me saiu da cabeça…
Better Call Saul apresentou uma temporada muito, muito boa, com o ritmo ideal (quem me dera que todas as séries tivessem o mesmo tratamento). Se foi o melhor episódio de sempre da série? Não sei, até porque continuo a ter bem presente o episódio totalmente dedicado ao Mike 😀 (S01E06).
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Quando tiveres um tempinho, “Room 104” vale bem a pena. 12 episódios, 6 horas da tua vida. Uns episódios um pouco mais fracos, mas quando realmente acerta é excelente. E experimentou vários géneros no decorrer da temporada.
Sim, o ritmo de “Better Call Saul” merece ser referenciado, tantas vezes apelidado somente como “lento”, mas é bem mais que isso, acaba por ser muito característico, tudo decorre no tempo ideal sem nunca se sentir forçado. Gosto imenso desse episódio do Mike (que interpretação!), mas pessoalmente pendo mais para este.
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Pronto, já comecei a ver Leftovers de tão insistente és :p
Não podiam ser mais diferentes os nossos tops mas também a “batota” de repetir séries que eu não vi ia ser difícil eheh
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Ainda tens que esperar um pouco pelo deslumbre de Austrália 😛
Sim, realmente muito diferentes, é sempre por isso que gosto de fazer e cuscar as restantes listas.
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Wow! Há tempos não comentava por aqui! Senti falta dos teus textos, Rafa!
Lendo tua lista, veio-me à mente que em 2017 as melhores interpretações vieram quase que inteiramente da TV. Carrie Coon espetacular, Amy Brenneman visceral, Elisabeth Moss sublime. Todas estas interpretações magistrais foram seguidas de um argumento, no mínimo, excelente. A safra de bons programas foi bastante generosa e teus episódios escolhidos fazem jus a ela.
Um feliz 2018, Rafa, e com ele ótimas safras de séries! Abraço!
(meu coração ainda sente a dor da despedida de The Leftovers! Snif!)
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Hey Luís, sejas bem aparecido! 🙂
Sim, excelentes interpretações sem dúvida, ainda para mais a dobrar, no caso de Coon (Leftovers/Fargo) e Moss (Handmaid’s e Top of the Lake, esta segunda que ainda não espreitei), dominaram o ano televisivo. Muito curioso para ver o que faz Carrie Coon em seguida, depois de um papel imbatível como o da Nora. E a Elisabeth Moss está a construir um currículo excelente, escolhas bastante cuidadas, seja em tv ou cinema.
Obrigado, Luís. Um bom ano para ti! Abraço.
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