The X-Files: 11×01 – My Struggle III (FOX)

O texto que se segue CONTÉM SPOILERS

“The X-Files” regressa com um dos piores episódios de sempre.

Estava com dúvidas sobre como Chris Carter iria retomar a saga de “The X-Files” depois daquele final anticlimático e algo decepcionante. No entanto, só a novidade do regresso era motivo mais do que suficiente para o entusiasmo de regressar a este universo.

O episódio não foi todo mau. Houve bons nacos de conspiração à lá X-Files, momentos bem realizados e conseguidos, mas infelizmente foram a minoria do episódio.

No campo positivo destaque-se a montagem introdutória que surpreendeu (já havia acontecido na primeira temporada), no qual há uma excelente combinação das referências do universo “The X-Files” com a realidade mundial e americana. E, estranhamente, misturar “The X-Files”, com Trump, o líder da Coreia do Norte e as alterações climáticas, entre outros elementos, com a “fraude” da chegada do homem à lua, Roswell, aliens, experiências e vírus, acaba por fazer todo o sentido. Em muitos casos a realidade ultrapassa a ficção. E a ficção de “The X-files” se calhar não é tão inquietante quanto o mundo actual.

Depois, a resolução do cliffhanger da temporada passada também não desiludiu. Foi simples e aceitável com um estado clínico de Scully em acelerado deterioração e uma ligação mental/psicológica ao seu filho. O problema foi quando se quis tornar aquela situação no centro dramático, na linha narrativa do episódio, acabando por forçar demasiado a nota com resoluções supostamente de suspense, mas que nunca o foram em demasiado. Scully em coma(?); Scully com flashes premonitórios (o filho que envia?) sobre o mundo, Mulder e o Smoking Man; a médica que não percebe mas acredita que foi alvo de uma experiência secreta de manipulação do cérebro de que ela teria conhecimento a partir de outros pacientes (muito conveniente e uma grande coincidência); depois a saída do coma(?) e a entrada e a saída. Neste segmento apenas o código morse foi verdadeiramente interessante.

E no final volta para o hospital. Grande azar a de Scully, que passou parte substancial deste episódio deitada, aliás, na linha de muitos e diversos episódios da saga que a tiveram doente e acamada. Serviu essencialmente para estabelecer duas ligações: o seu carácter visionário (a humanidade em perigo, Mulder em risco, o filho a necessitar de ser encontrado) e a ligação à mitologia X-File.

Essa linha, deveria ser acentuada por Mulder. Até certo ponto consegue fazê-lo, ao ser essencial no seu encontro com uma (para)organização que estivera ligada ao The Smoking Man e que lhe explicam os planos do vilão mor para acabar (reiniciar) a humanidade em contraposição com os seus (na realidade, não muito diferentes).

O problema na linha Mulder assentou na estruturação da narrativa, muito débil e sem rumo. Grande parte das sequências em que entra, Mulder está a conduzir e a reflectir em off. Demasiadamente excessivo o voice over, sem grande sentido, procurando justificar a acção e as suas preocupações face ao que acontece. Sempre ao volante de um carro, sempre estrada fora com momentos de perseguição contra um suposto vilão omnipresente (perseguindo Mulder, o protector de William e tentando matar Scully). Por vezes parece um filme publicitário a uma marca de automóveis. Aliás o mais confuso de todo o episódio foi este segmento: excesso de informação pensada por ele e dita pela organização secreta que aparece às três pancadas.

The Smoking Man, por sua vez, é demasiadamente palavroso. Parece ter necessidade em explicar as suas acções até ao detalhe. Temos que perceber que é mau e doido. Do doido nunca ficamos convencido tal a racionalidade que impõe nas suas acções. E isso é bom. Quanto a ser mau, bom, a opção é demasiadamente fraca e destrói todo um personagem e a figura que dele tínhamos. O carácter ameaçador de The Smoking Man, foi construído com os seus silêncios, a sua presença atenta, ameaçadora e misteriosa. Pô-lo a falar desta forma é destruir uma ameaça.

Salva-se o final. Não a sequência da tentativa de morte de Scully no hospital. Todos sabíamos que se salvaria. Mas sim a extraordinária e imaginativa forma como se vai buscar uma sequência de um episódio antigo com Scully e o The Smoking Man e se baralha completa o jogo, atirando-nos para uma linha narrativa inesperada e com consequências imprevisíveis.

Mas já era tarde para salvar o episódio.

Venham os próximos oito episódios, que não serão da mitologia, e sim episódios com conclusão, escritos e realizados por alguns dos velhos argumentistas (e mais talentosos que Carter). Será para a semana que verdadeiramente começarão “The X-Files”.

 

Nota Final: a estranheza dos créditos iniciais e da sequência do episódio antigo com Scully e Mulder tão novos, em contraste com a patine do tempo dos personagens na actualidade…

 

 

Um pensamento em “The X-Files: 11×01 – My Struggle III (FOX)”

  1. Regresso, mais uma vez, agridoce… A nível de mitologia, é claramente um dos mais fracos. Começou muito bem, com a abertura dedicada ao Smoking Man, mas depressa descarrilou. Concordo completamente contigo, quando dizes que estão a destruir uma das personagens mais icónicas de The X-Files. Ele que passava quase sempre despercebido, com o silêncio a ser uma das suas imagens de marca, agora não para de falar, como se fosse obrigatório explicar tudo o que fez, faz, e vai fazer…
    O estado clínico de Scully foi uma saída bem pensada, mas era escusada toda a cena entre o sai e volta a entrar no hospital. Do mesmo modo, a perseguição que envolveu o Mulder, pareceu-me completamente deslocada do espírito da série…
    Safou-se a parte final,que é realmente muito boa, totalmente dentro do espírito da série.
    Pelos vistos, o sindicato afinal não foi todo extinto…

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