Se me dissessem que havia uma “heist series” espanhola cujo assalto decorre na totalidade da sua primeira temporada de treze episódios, questionaria logo à partida a integridade de uma história que se perspectiva demasiado curta para uma duração tão longa. Pior ainda, quando soubesse que afinal esses treze episódios compõem apenas uma parte e não a totalidade da história. Felizmente ninguém mo disse e descobri “La Casa de Papel” no Netflix por mero acaso, sem nunca antes ter ouvido falar de tal série. E rapidamente fiquei viciado.
A série criada por Álex Pina chegou ao Netflix no final do ano. É composta por quinze episódios, já exibidos em Espanha, mas convém clarificar que quando o Netflix adquiriu os direitos de distribuição para outros países decidiu esquartejá-los e de nove fez os treze que actualmente estão disponíveis no serviço de streaming, ao que parece. Ou seja, os restantes seis provavelmente ainda originarão mais dez, quem sabe, tudo dependendo da duração dos mesmos.
Pormenores técnicos à parte, “La Casa de Papel” é entretenimento descomprometido puro, um thriller ao estilo daquilo que foi “Prison Break” durante a sua primeira temporada (quando ainda era tragável), e a premissa é aquela que exactamente já imaginaram: um grupo de ladrões cujos elementos, aparentemente, nunca se conheceram antes, cada qual com uma habilidade específica, é “contratado” por um misterioso homem, ao qual tratam por El Profesor, para o maior assalto de sempre (à la Casa de Papel, o local onde se “faz” dinheiro). Para tal, existe um plano estrategicamente engenhoso, que pede ao espectador boa capacidade de suspensão da descrença devido às imensas vezes em que se revela deveras conveniente, mas coeso dentro da trama a partir do momento em que o decidimos aceitar como minimamente plausível.
Assim, durante a totalidade desta primeira parte da temporada somos transportados para uma história que se vai compondo através de duas narrativas, uma no presente (a que envolve os assaltantes/sequestradores, reféns e agentes) e outra no passado (onde nos é proporcionada a possibilidade de conhecer mais a fundo as personagens, graças a cenas decorridas sobretudo entre o período em que se conheceram e os meses que passaram juntos a treinar para que o assalto decorra na perfeição), e desenvolvendo-se num turbilhão de reviravoltas enquanto constrói personagens que rapidamente se tornam cativantes. É nelas, e na sua capacidade de empatia, que reside a grande força da série. Os diálogos, por vezes, são péssimos, mas aceitam-se com facilidade pois sentem-se orgânicos às personagens que os debitam. Os twists nem sempre surgem com naturalidade, sentem-se demasiado estudados, mas tornam-se divertidos na medida em que moldam as personagens e sua a realidade. Há cenas de credibilidade questionável (como marcar encontros românticos enquanto se está a liderar uma força de intervenção com prazo imposto para a resolução de um sequestro), mas que se desculpam porque, por essa altura, em que já se assumiu um compromisso em ir até ao fim, não há volta a dar.
“La Casa de Papel” pode não ser uma obra-prima da ficção televisiva, mas é uma série ideal para alegrar as cinzentas tardes chuvosas.
Só agora aqui cheguei e estou a gostar bastante da série. Só não percebi afinal o que aconteceu na passagem da série para a Netflix: dizes que esquartejaram os episódios e de 9 fizeram 13. O que é que isso significa exactamente? Editaram os episódios de outra forma?
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