“That is the most insane idea in our history of insane ideas.”
Depois da desilusão dos episódios mais recentes, eis que as nossas preces foram ouvidas e, em “Rewind”, tivemos direito não só ao melhor episódio da temporada até aqui, mas também a um dos melhores episódios que a série nos apresentou ao longo destes cinco anos. E o mérito vai todo para uma só pessoa.
Não, não é de Fitz, embora seja ele o foco do episódio, mas sim Craig Titley, o argumentista, que não só escreveu aqui um episódio brilhante, como também já foi o responsável por outros dos nossos favoritos, “4722 hours”. Nesse episódio da terceira temporada o destaque foi para Jemma, perdida que estava no espaço. Dois anos depois, Jemma continua perdida no espaço, mas agora no futuro, passando o testemunho da história para Fitz, que mais uma vez ficou para trás, longe dos que mais ama. Depois de tudo aquilo por que passou na Framework e as consequências muito graves para o mundo real, a única coisa que nos podemos perguntar neste momento é: porque é que o universo insiste em tratar tão mal o pobre cientista? Não, a sério, já chega, já merece alguma felicidade em vez de estar sempre a sofrer.
Mas, verdade seja dita, se o sofrimento da personagem já merece algum alívio, para nós, espectadores, isto acaba por ser uma grande mais valia, pois ao focar-se numa personagem apenas (ou melhor, em duas, mas já lá vamos), dá-se a oportunidade ao actor de a explorar a fundo. E foi isso que Iain De Caestecker conseguiu fazer da melhor forma. A primeira metade do episódio é toda de Fitz que, após o desaparecimento dos seus colegas, acaba por ser preso pelo exército e forçado a tentar chegar a uma conclusão sobre o mistério. Durante seis meses, Fitz desenvolve várias teorias, mas sempre sem sucesso. Como explicar o desaparecimento de tantas pessoas em poucos segundos? Quem tem o poder / a tecnologia para fazer algo desta magnitude sem deixar rasto? As teorias são cada vez mais rebuscadas, mas uma delas – bem mais simples – acaba por ser a mais assustadora: poderá Fitz ter sido o responsável? Terá o Fitz da Framework deixado marcas no Fitz do mundo real? Felizmente, e como vimos a descobrir, esta teoria era falsa, mas ainda assim, dá que pensar.
Com Fitz ilibado do desaparecimento dos amigos, ficava no ar a questão: quem era o responsável? Para resolver um dilema tão complicado, é preciso ajuda. E eis que esta chega, do sítio mais inesperado: Hunter! O Hunter está de regresso, e graças ao futebol! Ou melhor, às cartas enviadas por Fitz para uma revista de futebol durante a sua reclusão, que conseguiram passar pelas malhas dos censores e chegar a quem de direito. A entrada em cena de Hunter foi uma óptima surpresa, não só para Fitz, que tem agora finalmente alguém do seu lado, mas também para nós, que já estávamos com saudades. A despedida de Hunter e de Bobbi na terceira temporada foi muito triste, não só dentro da história, mas também no mundo real, ao ver duas personagens muito queridas deixarem a série para depois o spin-off anunciado não se concretizar. Já pedíamos, há muito, por um regresso destas personagens e, embora por agora não tenhamos conseguido o casal (visto a Adrienne Palicki estar muito ocupada noutro espaço sideral), temos pelo menos o breve regresso de um dos seus elementos.
O que andaram Hunter e Bobbi a fazer este tempo todo? Diz que houve ali umas viagens, algum trabalho de mercenário, um quase novo casamento e até uns ninjas (!!!). Bobbi continua na sua, e Hunter também. Os dois estão juntos e apaixonados, mas não sempre, e por isso Hunter é o único que tem tempo para dar uma mãozinha na fuga da cadeia de Fitz. Resolvido o problema imediato (tirar Fitz da prisão), e pondo as notícias em dia, há então que voltar ao trabalho e resolver a questão do desaparecimento de Phil e companhia. E nessa busca da verdade, o caminho acaba por ir dar a casa de Enoch.
“My Earth name is Enoch. I am a sentient chronicom from a planet which revolves around star in the constellation you know as Cygnus.” Como Hunter afirma, e muito bem, no que toca a esta personagem o melhor mesmo é ficarmos por Enoch, por saber que é um extraterrestre e que está na Terra para ajudar. Sim, Enoch foi o responsável pelo desaparecimento dos agentes, mas com um propósito muito claro: salvar a Terra. Parece que a tal profecia de que já tínhamos ouvido falar na estação vem desde esta altura, mais de 70 anos no passado, e que por isso foram enviados Phil e companhia. Quanto a Fitz, não estava na lista, e por isso teve de ficar para trás. Curioso é descobrir de onde vem esta profecia, com a série a provar, mais uma vez, que não esquece as suas origens, conseguindo arranjar forma de relembrar aventuras passadas e personagens que por ela passaram. Quase já não nos lembrávamos da família do inumano que previa o futuro e que Daisy tentou salvar, mas a ligação a esta história passada acaba por funcionar muito bem, por os poderes da filha estarem aproximados dos poderes do pai. Poderes que ditaram, por agora, o destino dos agentes da S.H.I.E.L.D. e, também, de Fitz.
Se é no futuro que os amigos se encontram, é para o futuro que Fitz irá. A forma de lá chegar é que terá de ser diferente. Não havendo um monólito para dar uma ajuda, é com a criogenia que se terá de fazer a viagem, e Fitz não hesita nem por um momento. Mais de 70 anos o separam dos amigos, e mais de 70 anos Fitz irá dormir para os encontrar. Uma dedicação que não nos espanta, tendo em conta a personagem. Fica assim explicado o seu surgimento tardio na estação, e aguarda-se, com expectativa, a reunião com aqueles que mais ama.
Antes da despedida, os comentários breves:
- Confesso que houve ali alguma expectativa de Enoch ser um Watcher. E até faria todo o sentido ser um Watcher, aproveitando para fazer a ligação a “Inhumans”. Um… quer dizer, se calhar é melhor não ir por aí. Como a personagem de Enoch é bastante intrigante, damos-lhe um desconto pela desilusão de não termos aqui a primeira visão do Uatu. Ficamos à espera de mais desenvolvimentos
- Enoch: “I’ve been expecting you.” Lance Hunter: “What? Wait. No. We’re here to surprise *you*, so act surprised.” Tantas saudades que tínhamos de Hunter… mas tantas a sério. Todo o episódio foi recheado de tiradas geniais, cortesia do nosso mercenário favorito. E só temos pena é que não esteja programado o seu regresso para tão cedo.
- Hunter: “I love you”. Fitz: “I know”. Ok, foi uma grande piada, admito, e brilhantemente interpretada pelos actores. E sim, eu sei que não é a primeira vez que se fazem referências a Star Wars em “Agents of S.H.I.E.L.D.”, mas ainda assim, lá por que a Disney é dona de meio mundo, não é preciso esfregar-nos esse facto na cara a todo o momento. (Mas lá que foi uma grande piada, isso foi).
- Hunter: “Release the ferrets”.