Comic Con Portugal 2017: 30% mais Agentes na Ruah…

Há exactamente um mês, decorria a edição de 2017 da Comic Con Portugal. Hoje, revisitamo-la através do testemunho do Vítor Rodrigues, num derradeiro artigo para o TVD.

Mais um ano, mais uma Comic Con vivida. Este ano a magia pode-se ter perdido, tal como os filmes de Harry Potter perdem o sparkle à medida que o tempo passa… mas raios, ainda é o mais parecido com Hogwarts que temos no nosso país e temos de o estimar! Há muito para abordar e ao mesmo tempo luto contra a necessidade de me repetir. Ao reler o texto do ano transacto revejo muita da experiência deste ano e isso funciona para o bem e para o mal.

Conferências de Imprensa

Este será o único aspecto que o visitante não experiencia e é aquele que (compreensivelmente) mais nos marca, nós os sortudos que podem falar mais intimamente com os artistas. Ao longo das edições temos visto verdadeiros “porreiraços” e este ano não foi excepção. Continua (e continuará) a surpreender-me o quanto os media portugueses se estão completamente a marimbar (termo técnico) para um evento que leva uma centena de milhar de pessoas à Exponor. Desde a primeira hora que o lado “media” se limita quase exclusivamente a um bando de jovens entusiastas que recebem os artistas e “salvam” as conferências de imprensa. Até mesmo Madison Iseman, com pouquíssimos títulos no CV, teve bastantes perguntas e um publico interessado. No fundo somos, acima de tudo, fãs entusiasmados pela oportunidade que nos é proporciada. Muito habitual no final ocorrerem pedidos de fotografias aos artistas (para stress absoluto da organização que tem horários a cumprir), que são muitas vezes aceites e é essa falta de “profissionalismo” que dá magia/originalidade e vai injectando sangue na CC, ao máximo das suas capacidades. A organização reconhece esse contributo e concede que regressemos ano após ano… e uma parte de mim quase agradece essa negligência dos grandes nomes…

Lojas

O pavilhão que menos mudou. As caras de sempre, o display de sempre, a anemia comercial de sempre. O tema incontornável desta edição é a mudança para Lisboa, e no que toca às lojas há um factor que faz toda a lógica: o português não deixa euros na Exponor. Um evento em Lisboa chama mais estrangeiros (não espanhóis, que também não gastam) e do ponto de vista comercial a mudança faria diferença. Um dos vendedores disse-me que em cada dia do evento um estrangeiro gastou mais que todos os outros compradores juntos, deixando lá centenas de euros. O Joe referia no último painel que o pavilhão se focava muito no comercial e pouco na experiência… será que um publico mais gastador chamaria outras atrações? Fica a pergunta.

Artist’s Alley

Notei um ligeiro aumento de trafico nesta zona da exposição mas tristemente continua a ser um “corredor de passagem” a quem está mortinho por entrar na Exponor. Não vejo outro local para colocar os artistas, o problema aqui será mesmo o publico que parece não se interessar muito, ou pelo menos tanto como estas pessoas com talento mereciam. Nunca é demais chamar a atenção para o trabalho do Edgar e os seus fantásticos Posters Caseiros.

Pavilhão de Cinema e TV

No ano anterior o TV Séries conseguiu muita atenção, este ano penso que o vencedor é mesmo o espaço da Liga da Justiça. Não só tinha o carro usado no filme mas contava com experiências em Realidade Virtual que tinham quase sempre fila. Syfy deu-se mais uma vez bem, assim como a AXN com “The Big Bang Theory”. A desilusão vai mesmo para o conteúdo Star Wars. A nave à escala e outros adereços parecem não ter cativado muita atenção. Talvez a febre esteja mais amena. Talvez a ausência da Legião explique, talvez…

Restauração

Mais diversidade e mais público a consumir, fruto de um domingo atípico em termos de movimento. Aliás, esse público que veio a mais em relação a outros anos apanhou mesmo algumas bancas desprevenidas, com stocks a acabarem antes do fim da hora de almoço de domingo. Não sei se será um feeling geral, mas pareceu-me também que houve mais gente a trazer a “marmita” de casa. O maior sucesso, curiosamente, continua a ser os noodles da Knorr, com constantes filas em todos os dias.

Gaming

Todo o espaço sofreu um deslocamento em sentido horário. Esteve mais amplo (demasiado amplo por vezes, com espaços vazios) mas há uma clara falta de inovação. As experiências são boas mas não há exclusivos para experimentar e o palco com espectáculos de LOL e CS é bom mas não há outros jogos para outros públicos. Entre o pessoal que acampa a jogar o dia inteiro e a oferta de jogos serem títulos que os verdadeiros fãs até já acabaram, o incentivo é pouco. A novidade vai para o espaço da Liga de Futebol, com FIFA18 em ecrã gigante, mas até aí o espaço foi desproporcional ao entusiasmo que vi do publico. Tal como os outros talentos, deve ser difícil puxar conteúdos para a nossa Comic Con, mas a área gaming precisa de um refresh

Voluntários

Está muito, muito melhor!! Agora existe uma hierarquia de staff que torna todo o processo (de gerir o publico e informações) mais eficiente e fluido. O voluntariado tem um membro de staff (t-shirt preta) por perto que por sua vez tem um “gerente” de Auditório quase sempre no local para coordenar forças. Já não há o sentimento de “correr à barata tonta”, o diz que disse, a contra-informação… parabéns pela evolução. Por vezes há a sensação que não seriam necessárias tantas mãos-de-obra, mas acredito que seja melhor ter a mãos que a menos.

Painéis

  • A mudança para os sofás tornou o ambiente mais acolhedor e confortável para os artistas, mas a grande mudança deste ano vai para a menor afluência de publico. Até em convidados com o Clark Gregg ou Daniela Ruah, principais cabeças de cartaz. A inversão da entrada-saída do Auditório A foi mais um sucesso, mantendo o publico à espera de entrar “dentro” do evento.
  • O maior destaque vai para aquele que é sempre o ponto alto para mim: música no cinema. Este ano ficou a cargo da Lisbon Film Orchestra que interpretou vários temas do mundo do fantástico para delight de um auditório cheio. Quando “Star Wars” ou “Senhor dos Anéis” se fazem ouvir… encaixa como uma luva na experiência Comic Con. No início da fila para entrar estava um casal atípico, os pais do maestro que o trouxeram ao Porto e que me fizeram saber (e por sua vez eu a vocês) que eles estarão novamente no Porto a 14 de Janeiro no Coliseu. Se puderem compareçam, vale bem a pena!
  • A antestreia de “Jumanji” é mais uma pequena vitória no que toca a conteúdo exclusivo. Confesso que gostei mais do filme do que estava a espera e vê-lo num ambiente mais descontraído, com malta que está lá para o mesmo, tornou a experiência ainda mais satisfatória.
  • O painel da Warner não apresentou qualquer conteúdo que não se possa ver no Youtube. O destaque vai para a exposição de “Disaster Artist” e pouco mais. “Ready Player 1”, “Noite de Jogo”, “Rampage”, “Annabelle 2″… nada de novo. A referência ao novo “Fantastic Beasts” e “Aquaman” não passaram disso mesmo, referências. Um panfleto teria quase a mesma informação. Se a isso acrescentarmos inúmeros problemas sonoros, foi uma total perda de tempo.
  • Nuno Markl regressou mais uma vez para nos mostrar o piloto da sua série “1986”. Um “The Goldbergs” à portuguesa que deixou os mais velhos a recordar e os mais novos a sorrir. Espero que se dê tão bem na televisão como no Auditório A e que tenha a segunda temporada que parece merecer.

Cosplay

Espero não estar a ser incrivelmente injusto, mas é neste aspecto que o evento mais me desiludiu este ano. É verdade que a falta da Legião se fez sentir, mas senti também uma bem menos presença de cosplayers na Exponor. Continuamos a ver excelentes trabalhos de verdadeiros artistas, mas foi bem menos o publico que decidiu entrar no reino da fantasia, e quando assim é parece que a magia não é a mesma no recinto. Em anos anteriores os corredores estavam cheios de fatos, de pessoas a pedirem fotografias, de originalidade e entusiasmo. Este ano pareceu tudo muito… vá, “meh”. Seria importante perceber se a minha percepção é real, e se sim, o porquê do abandono. Outro aspecto que me parece importante mudar é o concurso de cosplay, que neste momento parece concorrer com os Óscares a ver qual dura mais tempo. As vezes menos é mais.

Chatices

A principal chatice a salientar, e cuja culpa recai completamente sobre a organização, é o facto de começar a ser impossível assistir a todos os painéis que quero! As agendas dos diversos temas já são suficientemente incompatíveis, se a isso juntarmos as conferências de imprensa torna gerir tudo completamente impossível. Conferência de Daniela Ruah e Clark Gregg ao mesmo tempo do interessante painel de Carlos Conceição sobre efeitos especiais. Painel de plataformas digitais ao mesmo tempo de painéis nos outros auditórios?! Enfim, é algo que tenho tentado aceitar com o passar dos anos, há medida que vai havendo sempre mais conteúdo, mas é difícil. O sentimento de culpa foi no entanto amenizada pelo cancelamento de vários painéis no Auditório C. Falha do parceiro da Comic Con, responsável pela organização e dos convidados (quase sempre portugueses), fizeram com muitas pessoas dessem “com o nariz na porta”. Eram painéis menos populares mas que ainda assim deixaram pessoas desiludidas e que não deixam de empobrecer a experiência para quem deseja vivenciar a CC para lá do passeio pelo recinto. Outro dos pontos menos positivos foram os packs Fast e Experience. Não havia concórdia em quais painéis é que cada um dos bilhetes tinha prioridade e isso criou alguma confusão. O balanço que faço é que o Fast foi absolutamente inútil. Se querem a experiência total optem pelo Experience, caso contrário não há quase diferenças entre Fast e Experience que compense o gasto. Acredito que a existência de dois tipos de bilhete VIP criou mais problemas que benesses.

Balanço

No ano passado Joe organizou um painel de despedida para quem quisesse fazer perguntas variadas e o modelo pegou. É sem dúvida dos mais interessantes painéis para quem deseja conhecer um pouco as dificuldades em organizar um evento destes. Nele, Paulo Cardoso anunciou que 100. 748 de visitantes passaram pela Exponor, quase 30% acima de 2016. A pergunta que ocorre nas mentes de muitos é se o evento não cresceu para lá do casulo dos 60 mil metros quadrados de Exponor. Há uma bem clara vontade da Câmara de Matosinhos em manter a tradição, mas há também uma vontade grande da organização em crescer. Contra mim falo que vivo a cinco minutos a pé e lamentarei imenso se o Porto perder mais um ponto de interesse para Lisboa. Mas é difícil argumentar contra o facto de Lisboa possibilitar um próximo passo, pelo menos se a forma do bolo se mantiver igual todos os anos. Sim, houve uma sensação de perda de magia que poderá ser explicada pela presença de publico que veio nos outros anos e cuja experiência repetida é obviamente menos excitante. Poderá argumentar-se que os convidados não eram apelativos ou que a ausência do feriado teve impacto. A verdade é que senti a falta da tal faísca e não consigo identificar a falha. Dito isto, no Porto ou em Lisboa, lá estarei para o ano. A experiência continua a ser bem positiva e não faltam motivos para revisitar. Eventos destes no nosso país devem ser apoiados e embora haja muitas vozes criticas, alimentadas pela ignorância dos factos, também é verdade que há um crescimento exponencial dos interessados.

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