Pode uma série sobreviver sem o seu protagonista? Pegar nos pedaços que restaram depois de um desfecho definitivo, dar-lhes uma reviravolta, colocá-los em novas posições e continuar a apresentar um bom produto? É raro, é verdade. Mas a terceira temporada de “Narcos” é prova de que é possível fazê-lo da melhor maneira.
A história ditava a despedida de Pablo Escobar após duas temporadas, deixando em aberto a questão de quem lhe poderia suceder. Na ficção, tal como na realidade, a resposta não se fez esperar, com a passagem para primeiro plano dos novos reis da cocaína: o Cartel de Cali. Já tínhamos travado conhecimento com alguns dos seus elementos brevemente nas temporadas anteriores, tendo deixado boa impressão, mas agora ficamos a conhecê-los em todo o seu esplendor. Ou, melhor, no seu auge, antes da partida. Foi uma grande aposta esta a de começar a história do domínio do novo cartel no momento em que o mesmo está a pensar deixar tudo para trás, fazendo um acordo com as autoridades para se despedirem dos seus negócios ilícitos e ficarem só com o que de legal conseguiram “amealhar”. Não só esta decisão fez com que a série se conseguisse distanciar da história das últimas duas temporadas, como também fez com que conseguisse apresentar algo de novo. Estes quatro novos vilões (e são vilões, é importante que nunca nos esqueçamos disso, mesmo quando estão a ser mais charmosos) são de uma estirpe diferente, mais preocupada em esconder-se nas sombras para amealhar do que em transformar-se no Robin Hood dos pobres do bairro; mais preocupados com o futuro, do que com o aqui e agora. O corte de Medellin para Cali podia ter sido abrupto, mas no final acabou por resultar, e apresentar uma temporada muito sólida.
Gilberto, Miguel, Pacho e Chepe. Os quatro homens que, no rescaldo da queda de Escobar, consolidaram a sua presença e transformaram o seu cartel num império à escala global. Quatro homens que, não fosse a ajuda americana, e poderiam ter conseguido escapar com penas mínimas e todas as suas fortunas acumuladas. Gilberto e Miguel, irmãos tão diferentes em personalidade quanto em aparência: Gilberto mais expansivo, mulherengo e cérebro do plano para reformar mais cedo o quartel; Miguel mais contido mas, também, mais explosivo quando as coisas não seguem o seu rumo ou quando põe as vistas numa mini-saia jeitosa. Pacho, o agente suave, homem de poucas palavras e de lealdade inabalável, capaz de guardar rancores por muito tempo. E o recém-estreado Chepe, o rei de Nova Iorque, com um humor sempre mordaz e uma incapacidade de resistir a vingar-se de quem lhe faz mal, numa brilhante interpretação do português Pêpê Rapazote e que tem direito à melhor cena de toda a temporada. São quatro os homens de Cali, que acabam por cair por confiarem demasiado na máquina que criaram. São quatro as personagens em destaque nesta temporada, mas no final, apenas uma interessa: Jorge Salcedo. É a sua história que marca esta temporada, que nos deixa a roer as unhas para saber como irá escapar de mais um embrulhada, que nos faz não conseguir parar de ver, episódio atrás de episódio, até chegar ao desfecho final e saber se consegue ou não sobreviver. Jorge Salcedo, o homem das escutas, chefe de segurança do “KGB colombiano”, foi o responsável pela queda de um dos maiores cartéis da história, e foi também o culpado por mais uma grande temporada desta série. Uma personagem de poucas falas e de semblante impávido que, de forma muito subtil, foi conquistando o seu lugar e conseguiu mesmo ofuscar os demais – incluindo o regressado Peña e os estreantes Feistl e Van Ness.
Com mais uma sólida temporada no bolso, “Narcos” continua a ser uma grande aposta da Netflix. E nos por cá, vamos ficar atentos ao que vem por aí. Dizem que há muito território por explorar ali para bandas de Juarez…
Muito bom!!!
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Uma temporada muito boa.
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