Originalmente previstos treze episódios, a primeira temporada de “Star Trek: Discovery” acabou por ganhar mais dois numa altura em que se filmava o sexto. Mesmo com tempo para preparar essa mudança, a verdade é que os dois últimos episódios da temporada se sentem algo apáticos, sem a energia dos restantes, e precipitados em determinados aspectos da história, especialmente o último, que apresenta uma resolução claramente apressada e, ainda por cima, bastante tímida.
Há três pontos-chave neste episódio que lhe retiram força e que encaro como percalços numa temporada de qualidade pautada pelo equilíbrio.
Comecemos pelo fim da guerra, que se sente como uma resolução fácil para um conflito que não preveria a ligeireza do seu desfecho. O plano tem a sua legitimidade, dando o poder à L’Rell para chantagear os líderes das casas Klingon, mas a credibilidade do momento sai fragilizada pela sua conveniência, em que todos aceitam as ameaças como dado adquirido, sem questionar, sem testar, sem resistir, uma resignação atípica para qualquer elemento da raça Klingon e que existe apenas em prol da necessidade de encerrar este arco narrativo a tempo e a horas. É objectivo, mas não se sente orgânico; acima de tudo, não se sente credível.
E, depois, temos as despedidas. O Ash Tyler despede-se. A Georgiou também. O Lorca já se tinha despedido. E toda a gente sabe que eles, mais tarde ou mais cedo, voltarão à trama. É daquelas opções narrativas típicas das séries de televisão, mas que se tornaram tão ineficazes como dispensáveis.
Saltando para o fim, para o cliffhanger inesperado que não é tão surpreendente como isso, pois estaria destinado a acontecer: um encontro da Discovery com a Enterprise, nesta altura liderada pelo Pike. Este é um daqueles não-acontecimentos. Nada se passou, nada aconteceu. Apenas se sabe que há uma nave que lança um pedido de ajuda, que, só por acaso, é a principal protagonista do franchise “Star Trek”. Visto à lupa, fosse outra a nave, uma qualquer desconhecida, e este momento no final de uma temporada seria completamente inócuo. Mas a verdade é que estes não-acontecimentos transformados em ganchos são sempre eficazes. Numa história que se desenvolve a partir de elementos tão enraizados na cultura popular, é natural que a força do detalhe assuma proporções de outra dimensão. E aceita-se que “Discovery” não fuja à “exigência” de o fazer.
Concluindo: “Will You Take My Hand?” não invalida o nível de qualidade apresentado por “Star Trek: Discovey” ao longo da sua primeira temporada, mas está longe de ser o desfecho que a mesma merecia. Infelizmente, às vezes acontece.
Live long and prosper.