Breves apontamentos e reflexões sobre a actualidade televisiva.
O Bom
Um congresso político
Aqueles que por aqui passam sabem do meu gosto e preocupações com questões políticas e de cidadania. O fim-de-semana passado, apesar de politicamente light ao nível de grandes comoções jornalísticas teve um evento de peso: o Congresso do PSD. Como tal, foi um ver se te avias em termos de cobertura jornalística tendo dado para tudo, desde o Bom ao Vilão. Falo da cobertura televisiva, e não do Congresso, pois é aquele que aqui neste cantinho nos interessa.
Por estranho que pareça, a cobertura nos diferentes canais foi geralmente sóbria e incisiva. Não tivemos aquela cobertura escandoloso-futebolístico-trágica que normalmente acontece e é perceptível em diversas notícias.
Procurou-se enquadrar o congresso, a situação e as propostas; não houve exageros nos comentadores, normalmente construtivos, nem se esperou e incentivou alguma diatribe do eterno enfant terrible do partido (apesar dos cabelos brancos ondulados), nem se exagerou na diabolização feita ao maior dos críticos que afrontou o novo líder.
Nesse particular estiveram muito bem ao nível da cobertura noticiosa.
O problema foi depois do Congresso e no seu rescaldo, como poderão conferir no Vilão.
“Black-ish” continua a dar cartas
Só recentemente iniciei o visionamento da quarta temporada de “Black-ish”. Na minha opinião é a sitcom mais interessante, provocadora e imaginativa que existe na actualidade na televisão. Considero mesmo ser um dos poucos programas de ficção que é verdadeira e (quase) totalmente politizado e o único que recupera o formato pedagógico e educativo ao nível de uma cidadania activa.
Alguns dos seus episódios são magistrais exercícios de análise social e política, que deveriam ser exibidos em salas de aula e visto pelos políticos. A reflexão que fazem da sociedade em geral merece ser pensada.
O primeiro episódio desta quarta temporada é exemplar de tudo aquilo que atrás referi, ao debater o papel dos negros na sociedade americana e ao introduzir elementos da herança ainda mal resolvida por todos que a escravatura deixou. O episódio é educativo, imaginativo e provocador. E, nós portugueses, muito de passagem somos referidos.
Esta também é uma questão por nós mal resolvida.
O Mau
Música. Nasci para a Música.
Depois do sucesso da vitória de Salvador Sobral no Festival da Canção/Eurovisão, eis que nos preparamos – num país em autêntica comoção irmanado no desígnio nacional, eurofestivo – para a edição deste ano, na secreta e não revelada esperança/certeza de que o voltaremos a ganhar.
Não o vi, como não vejo há vários anos. Para mais é uma eliminatória. Mas soube das ondas de choque que o erro de atribuição de pontos provocou.
Aconteceu. Não devia ter acontecido. Será necessário afinar procedimentos. Independentemente de se gostar ou não, o mediatismo é muito elevado para se poderem cometer daqueles erros.
Além daquele facto negativo, de sublinhar a inicial fuga para a frente em que se disse que não se dariam quaisquer explicações. Claro que aquelas são devidas e foram dadas num acto de contrição saudável. Positivo, a garantia de que não rolariam cabeças. São os procedimentos e protocolos que têm que ser alterados, não as pessoas que os cumprem. Pelo menos numa primeira fase.
O Vilão
O Pós-Congresso
Se o Congresso do PSD foi (quase) exemplar em termos de cobertura, no que respeita aquilo que aconteceu a seguir, já não podemos dizer o mesmo. Os canais televisivos foram ávidos e voarem a pique como abutres em direcção a uma das Vice-Presidentes do PSD, não contextualizando a informação e fazendo eco de elementos que estão longe de serem aqueles que verdadeiramente interessam. Confunde-se a árvore com a floresta. Já tivemos provas que a informação televisiva é capaz de muito melhor. Infelizmente, também já tivemos mais do que evidências de que são capazes de muito pior.