The X-Files: 11×07 – Rm9sbG93ZXJz (FOX)

Mas o que é que acabámos de ver?

Talvez o episódio mais atípico da série. Talvez o melhor episódio da temporada. Talvez um dos melhores episódios de sempre. Talvez o melhor episódio das últimas quatro temporadas. Talvez um episódio que não é “The X-Files”, mas ao mesmo tempo é “The X-Files”. Talvez o episódio mais provocador de sempre. Talvez o primeiro episódio da série verdadeiramente sobre o séc. XXI.

Uma coisa é certa: tenhamos gostado ou não do episódio, no futuro, quando falarmos de “The X-Files” este aparecerá sempre. Já agora, o título é o mais estranho de todos.

Escrever sobre este episódio é muito difícil. Não é um episódio simples, antes muito complexo (demasiado complexo?) e com diversos níveis de leitura. Portanto, começar a escrever sobre “Rm9sbG93ZXJz” é muito complicado. Mas é preciso começar por algum lado…

Comecemos então pela história: o que será que pode acontecer (acontece) num mundo digitalmente interconectado, no qual as máquinas têm inteligência artificial e interagem umas com as outras. Poderá tal constituir uma ameaça para o ser humano? Será que a interligação digital exponencia a capacidade de aprendizagem das máquinas, levando-as a autonomizarem-se e a influírem no ser humano e na organização da sociedade?

Mulder e Scully são colocados num ambiente totalmente tecnológico. Muitas vezes asséptico, estando rodeados por tecnologia, interagindo com essa tecnologia (mais do que com os outros). Por vezes no limbo da fronteira entre o real e o irreal (outro dos méritos/deméritos do episódio) no qual a tecnologia que existe, convive com aquela em vias de existir. Estão presentes no episódio restaurantes totalmente autonomizados (a Amazon já tem uma loja totalmente autónoma) e viaturas autónomas (várias companhias estão a fazer testes nesta área, perfilando-se a Uber como uma das grandes interessadas), mas igualmente drones, smartphones, casas inteligentes, aspiradores inteligentes, robots, todos estes elementos com um papel determinante na acção.

Aliás no episódio, Mulder e Scully são levados pelos acontecimentos até ao limite – mesmo quando nos soa a exagero – apesar de se perceber que tal é uma opção das argumentistas (que se estreiam na série com este episódio). São dois personagens alvo do boicote das máquinas, prenunciado os cenários apocalípticos de quando (e se!) as máquinas tomarem controlo da humanidade.

Igualmente soa como uma reflexão, com um nível duplo. Por um lado, o quão dependente estamos das máquinas e o quão entusiasmados nos encontramos com as possibilidades quase infinitas para a nossa vida que tal possibilita. Por outro lado, o da despessoalização a que nos estamos a sujeitar em virtude da tecnologia. Não nos falamos (ou melhor não conversamos), estamos próximos, sentados uns ao lado dos outros, mas com barreiras digitas entre nós. E não nos tocamos.

Neste sentido, este será dos episódios mais sérios, mais filosóficos e mais… antropológicos que a série já produziu.

Depois temos as opções artísticas que são igualmente vastas. O argumento quase não tem diálogos. Não é um filme mudo. Os diálogos são essencialmente entre humanos e máquinas ou somente entre máquinas. Mulder e Scully pouco falam um com o outro, corporizando um trabalho de representação extremamente difícil, mas bem conseguido, na qual os personagens têm que exteriorizar as suas emoções e reacções (quase) unicamente com recurso as suas capacidades físicas e emoções. E é bem conseguido, mesmo achando que Duchovny não é dos melhores actores de sempre.

Na mesma linha segue o número de actores. 99% do episódio, concentra-se naqueles dois actores/personagens. Apenas os últimos minutos incluem outros humanos, mas apenas como figurantes, sem qualquer destaque. Na mesma forma quase não há recurso ao contacto físico, sendo completamente isento de toque humano. Apenas no fim, quando simbolicamente Scully coloca a sua mão sobre a de Mulder se dá esse contacto, marcando o fim da barreira digital, da despessoalização e o regresso a um reino de (mais) afectos. É simbólico, reflexão do episódio, destruição de fronteiras, na essência o que conta somos “nós”, não o individuo.

Finalmente, destaque para a fotografia, asséptica, fria, distante, muito bem filmado, sublinhando todo o ambiente propício ao episódio.

Imagino que seja um episódio de ambivalências. Uns gostarão outros detestarão. Por mim, estou no primeiro grupo.

2 opiniões sobre “The X-Files: 11×07 – Rm9sbG93ZXJz (FOX)”

  1. Claramente um divisor de águas… The X-Files nunca teve medo de arriscar, e fá-lo novamente com elevada mestria. É mais um daqueles episódios que vai ficar na história da série, que todos, para o bem e para o mal, se recordarão… Eu gostei, mas perguntei-me várias vezes: O que é isto que estou a ver? 😀

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