As heranças podem ser pesadas, como todos sabemos. “The Exorcist”, a série estreada na Fox em 2016, tinha uma dessas. Não é fácil pegar num livro icónico, adaptado a um filme que se tornou icónico, e fazer uma série que fosse menos que icónica. Mas, por vezes, os deuses do escrutínio parece que acordam perdulários e a primeira temporada, longe de ser icónica, lá escapou à desaprovação colectiva. Ganhou seguidores, surpreendeu até alguns dos mais cínicos, sobretudo por mostrar-se arrojada dentro das limitações que lhe foram impostas (não esqueçamos que estamos a falar duma série exibida em canal de sinal aberto, onde há determinadas regras a cumprir). Com o relativo sucesso da primeira, seria de esperar uma segunda temporada livre de amarras. No entanto, havia uma a que não poderia escapar: o de manter intacto o legado deixado pela primeira.
E, nesse aspecto, não cumpre.
Obrigada a mudar grande parte do elenco de forma a preservar a integridade da história, mantendo apenas três dos personagens (dois principais e um dos secundários), perde essência em dois aspectos determinantes: na forma como se demonstra incapaz de inovar (com um setting diferente, mas um desenvolvimento praticamente idêntico) e na maneira como abdica de encontrar uma identidade própria, sucumbindo ao mainstream, ao thriller sobrenatural da conspiração que coloca espíritos malignos a planearem invadir a Terra (assemelhando-se cada vez mais a séries como “Supernatural” ou “Outcast”, para dar dois exemplos actuais).
A nova história, assente numa nova família liderada por John Cho, perde-se a partir do momento em que abdica de explorar um certo carisma que alguns dos personagens mais jovens exibem para se tornar num veículo para o personagem de Cho, este bem menos envolvente do que qualquer um dos seus filhos adoptivos.
A conspiração, arco iniciado na primeira temporada, ganha mais espaço mas segue o caminho previsível, adversa à originalidade e transformada numa banalizada luta do Bem vs. Mal, em que uns míseros resistentes conseguem encravar a engrenagem.
O resultado é uma temporada que avança em decrescendo, onde tudo o que foi alcançado pela antecessora quase que é invalidado. Falta-lhe emoção, falta-lhe vigor. Acima de tudo, falta-lhe alma.