1986: 1×03 – Sólido como Rocha

O texto que se segue CONTÉM SPOILERS

Como um passeio na Memory Lane se transforma numa passeata na Cliché Lane.

Cresce a desilusão com “1986”. A cada episódio que passa acentuam-se os pontos fracos da série.

Para já, ao terceiro episódio, continua demasiado inconsistente em todos os aspectos, independentemente dos pequenos oásis que vão aparecendo de boas ideias e sequências bem conseguidas.

O final do segundo episódio, revelou-se contido e intimista, revelando a ternura que efectivamente existe entre os criadores e os seus personagens. Neste, o colocar em cena o Rocha, da série Duarte & Companhia, ou a Lena d’Água foram excelentes ideias bem concretizadas.

O pior mesmo foram dois apontamentos que são tratados como lugares comuns demasiado evidentes e que são um tiro no pé (mais um) de uma série que claramente pretendia ser um fresco daquele período.

A rádio pirata tinha obrigatoriamente que entrar. Foi um dos momentos de maior liberdade a que assistimos para nós, jovens dos 80’s, e que só teria “paralelo” (exponencialmente incomparável) com a democratização da internet. Foi um pretexto para se colocar em prática a imaginação e comunicar de forma livre. Mereceria ter um tratamento que retratasse o entusiasmo de quem está defronte de magia, pensa que faz história e toca as pessoas. Infelizmente concentrou-se na punchline e não no retrato.

Passei por lá. Uma rádio pirata com paupérrimas condições, a paixão em passar discos (alguns riscados), a vergonha em falar para o microfone, o sentido de partilha. E o colega locutor gago… Nada disso era estranho, era natural e emocionante.

No entanto, o elemento que mais me fez comichão neste episódio foi o retrato dos “retornados”. O pai da Marta e dono do Clube de Vídeo, alguém que veio de África, desiludido e revoltado com a vida, um reacionário, um saudosista, anti-Soares, demasiado à direita. Que ouve “Muxima” enquanto carpe as mágoas. Pensava que aquela imagem já tinha passado. A história já demonstrou que essa visão é demasiado estreita e esquemática, um lugar comum que já expirou a validade.

De resto, as boas ideias continuam lá todas. As referências de uma geração americanizada e culturalmente cinéfila também. A escrita, a refugiar-se na punchline e no sketch é que não.

Quando se ambiciona ser um fresco de uma época, por vezes nem a refresco se chega.

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