Se estivesse a levar cada episódio a sério, seria aquele o meu estado.
Na realidade tenho visto todos os episódios, apesar de conscientemente saber que não têm sido grande coisa, nem nunca serão. Não é masoquismo, talvez saudosismo, talvez ver como se deslindará toda esta salganhada. Há alguns guilty pleasures que nos impelem a ver coisas que sabemos ser fracas.
Rapidamente, até por não haver muito a contar. Este é um episódio de lamber as feridas e de preparar os novos interesses(?) dos próximos episódios.
Tiago está deprimido por causa do fiasco da grande festa na qual foi DJ, mas porque com o escândalo que o seu pai fez a Marta está mais afastada dele e o pai dela tornou-se arquinimigo do seu.
Na escola – uma escola sem alma, que não se sente como escola, tudo demasiado artificial – o seu melhor amigo, Sérgio, continua obcecado com a perda da virgindade. Este parece ser uma das linhas narrativas dos próximos episódios. O seu plano de colocar um anúncio no mítico jornal Blitz, à procura de uma misteriosa loura parece ter pernas para andar. Claro que terá. E do outro lado do jornal estará um grande, grande amor ali de muiiiito perto. Make your bets.
Outra linha narrativa é a do pai do Tiago, Eduardo, e da professora do jovem. Os dois encontram-se casualmente no cinema, tendo direito a partilha de interesses comuns e a debate politico-cinematográfico-existencialista. Apesar dos pontos em comum entre os dois, a clivagem política é grande. No entanto, o destino e os argumentistas acabarão por os juntar…
Vamos lá ao Xanax audiovisual e espreitar “The Goldbergs”.
Desde o inicio que leio as tuas reviews de 1986 e claramente dá para perceber que não achas a série muito interessante e é pena porque dentro daquilo que a série se propunha acho que acerta muito bem. A ideia é ser leve, engraçada e saudosista, rever todas aquelas coisas típicas do fim da década de 80 e inicio da de 90. Pessoas com que eu falo que já eram “alguém com memória” nessa época gostam da série porque aquilo retrata muito do que se lembram da altura, do embate politico, da ida ao videoclube, do “Duarte & Companhia”, entre outras.
Na minha opinião os diálogos, principalmente entre o elenco mais jovem estão muito bons, sem serem brejeiros dão para rir e principalmente uma pessoa acaba por criar laços com as personagens. Sim, há alguns exageros e está um pouco abaixo de uma “Conta-me como foi” mas no geral não acho que seja tão “guilty pleasure” quanto a pintas e tem mais sumo do que o que tens espremido nestas reviews. É um pouco previsível, mas quantas séries ou filmes é que tens visto ultimamente e que não o são? E com orçamente uns bons zeros acima desta.
O sonho com o DeLorean trocado por um chaço qualquer (não me lembro bem de qual) achei genial e só demonstra o bom espirito Tuga…não há dinheiro para fazer a coisa real, improvisa-se e mantem-se o espirito! Para mim ainda bem que alguém continua a arriscar a escrever ficção em Português, a retratar um pouco da nossa história sem medo das audiências.
Apesar de não concordar muito contigo obrigada por escreveres e partilhares a tua opinião.
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Obrigado pelas interessantes opiniões que deixas.
Julgo que aquilo que é dito, assenta essencialmente num termo de comparação que assumi desde o inicio: tentar comparar esta série (e todas as que vejo) com o que acho que há de melhor. Não me parece adequado uma escala para a produção portuguesa, outra para a espanhola e outra para a dos EUA… Se assim fosse teria que assumir que um nível 3 dado a uma série americana, a uma portuguesa equivaleria a um 5, porque a experiência e os orçamentos são menores. De forma subjectiva, assumi que as minhas avaliações seriam (ou procurariam ser) as mesmas em termos de padrões para qualquer uma que visse.
“1986” tem muitos méritos. Mesmo. Vi todos os episódios, porque me identifico com a época (não tendo grandes saudades, nem sou daqueles que digo “no meu tempo” porque este 2018 é o MEU tempo!) e algumas daquelas situações foram por mim vividas, assim como o próprio espaço geográfico onde decorre a acção, como já o havia referido no pilot. Mas… custe a quem custar (e de forma subjectiva), não chega… lá. Lá, aonde? Por exemplo, a um “The Goldbergs”, a um “Fresh off the Boat” ou mesmo a um “Everything sucks” (que não foi renovada). Nem a um “Conta-me como foi” e muito menos a um “The Handmaid’s Tale” (que é 5 em qualquer episódio). Deverei avaliar de forma diferente, porque é português e tem menos recursos. Talvez, mas tenho dúvidas.
E tem outros méritos: arriscou! Fez diferente (ou pelo menos tentou). Mas… subjectivamente, não chegou lá! Lá, onde? À qualidade. Ao produto memorável (e não de memória que é aquilo que na realidade é). Mas repara: se não tivesse tido impacto, não haveria o hype que houve (apesar de alimentado), nem muita gente a falar nas redes sociais (mas sem embandeirar em arco como o supra sumo sacrossanto da ficção portuguesa). Antes como algo (ligeiramente) out of the box no actual panorama da ficção portuguesa. Como o tentou ser “Madre Paula”, também com diversas fraquezas, mas que globalmente me pareceu bastante mais interessante do que 1986, nos resultados finais e, assim como o tiro ao lado que foi o “Ministério do Tempo”. Já agora, gostava de saber do orçamento de cada um deles. E repara que são reconstituições históricas muito mais ambiciosas que “1986”.
Vi todos os episódios, não por masoquismo, porque não foi castigo. No geral foi agradável. Como quando encontramos aqueles amigos que não vemos há muitos anos e dizemos “epá, temos que ir almoçar um destes dias” e nunca vamos porque já não nos dizia muito.
Supostamente haverá uma segunda temporada e irei voltar a acompanhar. Não por masoquismo, mas porque tenho a certeza que terão aprendido com esta e melhorado. Mas também, na certeza que nunca irei dar um 5. E acredita que gostaria que isso acontecesse!
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