“Lost in Space” é um remake de uma série de 1965, mas as alterações à premissa original e sobretudo o desaproveitamento da mesma sentem-se quase como se fosse passada a papel químico de uma outra série bem mais recente.
Em 2011, surgia na FOX uma série de aventura com o carimbo Spielberg (o que, no que diz respeito a produção televisiva, está longe de ser representativo de qualidade), em que os protagonistas eram uma família em fuga dum planeta Terra bastante débil, praticamente à beira da extinção. Ali, a esperança recaía sobre uma viagem no tempo/universo paralelo para o Período Cretáceo.
A expectativa em torno da série era enorme, as audiências do primeiro episódio foram bastante aceitáveis, mas o entusiasmo com”Terra Nova” rapidamente esmoreceu, sobretudo devido às fracas personagens mas também resultante de um desaproveitamento da premissa em prol de uma narrativa repleta dos clichés do costume, além de se revelar pastelenta e repetitiva (e, para série de aventura, era pouco dotada em termos de adrenalina).
Em 2018, surge no Netflix “Lost in Space”, remake de uma série de 1965, mas sentindo-se mais próxima de uma quase segunda “Terra Nova”. Em praticamente todos os aspectos.
A começar pela premissa, na medida em que são quase idênticas. Enquanto na série de 1965, a corrida à colonização do espaço, com uma única família (os Robinson) a ser seleccionada para a aventura, era o ponto de partida, aqui dá-se lugar a uma fuga de um planeta Terra moribundo, tal como em “Terra Nova”. Outra similaridade passa pela caracterização do planeta e as aventuras ali decorridas. Claro que “Terra Nova” não inventou a roda e a “Lost in Space” original também explorou estes conceitos, mas tendo em conta o número limitado de séries existentes dentro deste género, é impossível não encontrar paralelismos. Por último, a dificuldade em estabelecer personagens e fugir aos clichés são enfermidades que ambas partilham.
É difícil criar histórias assentes em dinâmicas familiares que não tenham sido já exploradas até à exaustão e a forma de as tornar menos intoleráveis recai, naturalmente, na abordagem às personagens. Tal como se sucedeu em “Terra Nova”, as personagens deste “Lost in Space” pecam por serem demasiado planas, básicas na sua essências e na sua condição como humanos. Há dois destaques, porém: Penny, pelo sarcasmo (mas que descarrila após alguns episódios), e Dr. Smith, pela interpretação de Parker Posey. Mas as restantes são unidimensionais. Os pais demasiados envolvidos numa trica amorosa (a de um casamento sustentado por respirador), os filhos severamente “adultizados” (se bem , contrapondo com a representação típica da adolescência em televisão, a forma como estes são apresentados até acaba por ser uma mais-valia) e um Don West, encarnado por Ignacio Serricchio, que se limita a um papel de comic relief sem grande sucesso, baseando a maioria das suas piadas na sua relação com uma galinha. E resta ainda um rol de personagens secundárias que surgem do nada e que pouco acrescentam à história.
Os últimos episódios da temporada são mais prodigiosos em termos da componente de aventura a que a série se propõe, e as personagens, pelo menos os três miúdos, caem no goto a partir de dada altura, mas a temporada como um todo sente-se como um tiro ao lado, uma oportunidade falhada em oferecer uma série que seja mais do que um mero entretenimento descomprometido e pouco memorável pela abordagem segura, mas repetitiva, em que embarca.
Vou no sétimo episódio e estou com um ódio de morte à Dra. Smith. A sério, que raiva que me dá este tipo de personagem.
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