A lei que a menoriza.
“The Handmaid’s Tale” recebe Emily de volta, dedicando-lhe um episódio que prima pelo seu protagonismo. Episódio de estreias, não só pela primeira incursão às Colónias mas também por um recuo ao passado da personagem de Alexis Bledel. Actriz que comunica através do silêncio, volta a mexer com o fluxo de emoções do espectador no momento da despedida no aeroporto. Emily dobra cerimoniosamente a certidão de casamento agora inválida, pequeno gesto que traduz a sua impotência diante de uma lei que a extingue na importância.
No cenário sujo e pós-apocalíptico das Colónias confluem tonalidades de castanho e verde. Belíssima harmonia visual que tão bem comunica a ausência de esperança vivida diariamente por aquelas mulheres reduzidas a lixo. O crucificar da recém-chegada – a grande Marisa Tomei -, ilustra que também aqui se alcança o poder do colectivo através do uniforme que compartilham. Um novo espaço geográfico que se espera regular no curso da temporada.
No seguimento do seu libertar de amarras, “Unwomen” opta por não colocar June totalmente de lado, ainda que esta desça no protagonismo. Felizmente não se voltou a cometer o mesmo erro da temporada anterior, com um sétimo episódio focado em Luke (O-T Fagbengle) a interromper a narrativa em pleno clímax. O rosto de Elisabeth Moss desenha uma amálgama de emoções que a demarcam como uma das melhores actrizes da actualidade – o seu percurso no cinema encontra-se igualmente num crescendo de boas escolhas. Uma cena espreme até mesmo o mais duro dos corações. Ainda antes de efectivamente o vermos, já o olhar da actriz denuncia o horror daquilo se apresenta diante de si. A forca, os vestígios das balas, as manchas de sangue na parede. É de louvar o espectro de emoções que consegue transmitir quando a câmara lhe sufoca o rosto.
Gilead is within you. Like the spirit of the Lord. Or the Commander’s cock. Or cancer.
Já o referi anteriormente nas críticas à temporada anterior, mas são linhas de diálogo como esta que me fazem ponderar o quão diferente seria “The Handmaid’s Tale” num canal em sinal aberto. Comedida, provavelmente incapaz de confluir sexo e religião num só trago. Felizmente tem o veículo adequado para se poder desenrolar sem o escrutínio do espectro moral.
Com três episódios a mais em relação à primeira temporada, “The Handmaid’s Tale” tem maior palco para se dedicar ocasionalmente a outras personagens – Aunt Lydia merece uma backstory -, sem que para isso caia no erro de descurar o percurso da sua protagonista.
Mais um episódio memorável. Toda a história da Emily (passado e presente) é fascinante, transformando a personagem numa das mais interessantes e fortes da série.
Espero ver mais incursões às colónias, a fotografia esteve deslumbramte nos cenários exteriores.
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Acho incrível como a fotografia da série é tão coesa e ainda assim se diferencia muito bem a “geografia” da série, com paletes de cores distintas entre si mas que jogam como um todo.
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