Num episódio tão cruel, é de admirar que se tenha conseguido espaço para tamanha pérola: “Blessed be the Froot Loops.”
Na verdade, “Baggage” desenrola-se sem o habitual murro no estômago que tão sadicamente manobra as emoções do espectador semana após semana. Tenso, é certo, muitíssimo tenso – a banda-sonora esteve exímia no curso da fuga de June (Elisabeth Moss) -, mas sem apresentar a violência física e psicológica que são bandeira à distopia. De tal maneira, que se acredita realmente na possibilidade daquele voo com destino ao Canadá poder ser levado a cabo, sem se obscurecerem por completo as memórias de uma série que continuamente prima pela ausência de esperança. Eis que no último minuto a possibilidade de fuga se vê uma vez mais deitada por terra. Promessa curta que culmina numa cena dolorosa de testemunhar. Aquela que aparentava poder ser a linha condutora da temporada, essa perspectiva de fuga iniciada no fim do primeiro episódio, cedo se vê posta de lado. Daqui para a frente, com um reforçar da vigilância – roça o ridículo Nick conseguir encontrar-se com June -, será provavelmente impensável uma nova tentativa.
Num episódio que trouxe Luke (O-T Fagbengle) e Moira (Samira Wiley) de regresso ao panorama, talvez se encontre nestes um próximo passo a dar. Sem ir muito a fundo, “Baggage” mostra-se resumo da condição actual de ambos. Conta-se pouquíssimo sobre Luke, e somente no interior do apartamento, mas atenta-se ao sentimento de impotência que sente e deixa transparecer na postura. Moira acaba por receber maior destaque, resultando em contornos de carácter bastante interessantes. Continua a usar o nome Ruby para lidar com o sexo, numa cena que denuncia o quão danificada ainda se encontra. Acto de servidão e não tanto de auto-satisfação sexual. Liberdade relativa.
June: Later, my Mom told me they were writing down the name of their rapist. And I remember thinking, there were so many pieces of paper. So many, it was like snow.
Episódio de mãe e filha, “Baggage” introduz uma nova personagem que viria a servir de base à revolta de June já como handmaid. Os flashbacks inseridos de forma orgânica, num reavivar de memórias face ao presente. E neste aspecto há que salientar pela positiva o uso recorrente do slow-motion, técnica que em tantos outros produtos ficcionais cai num abuso excessivo e sem um propósito maior em vista. Em “The Handmaid’s Tale” encontra-se ao serviço dos sentidos, alongando no tempo memórias que substituem o que lhes foi roubado. Plano paralelo, sob o qual ainda têm controlo e identidade.
Depois das Colónias – a mãe de June talvez ainda seja uma personagem a reaver no cenário -, lança-se um olhar a uma outra classe baixa intitulada Econopeople. A segunda temporada continua a alargar o horizonte distópico.
Nem sei o que dizer deste episódio, acreditei mesmo que a fuga era possível… Aquele último minuto obrigou-me a começar a horas tardias o quarto episódio da temporada 😀
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Aquela cena final foi mesmo um murro no estômago. Também acreditei nisso, pelos vistos ainda não aprendemos em que série estamos 😦
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