Gueixas, katanas e códigos de honra. Bem-vindos a Shogun World.
Dá-se em todo o seu esplendor a tão aguardada visita ao parque da Delos inspirado no período Edo (1603-1868) da história do Japão. E não poderia ter sido encabeçada por melhor personagem. “Akane no Mai” – japonês para “a dança de Akane” – relembra Maeve (Thandie Newton) como o mais cativante ser a acompanhar na experiência “Westworld”. Há um balancear saudável entre a nostalgia do papel que ocupou como mãe e a imprevisibilidade que a dita como capaz de tudo para o reaver. Talvez por se ver bandeira a esse elo de ligação primário, acabe por transparecer como a personagem mais humana, capaz de despertar a conexão emocional do espectador, adormecida para tantas outras personagens. O arco narrativo de Maeve é o mais simples e directo no seu pressuposto, e talvez por isso mesmo o menos questionável em motivo. A cena final ilustra esse seu coexistir de posturas, com ambas as personagens a tomar direcções opostas. Maeve aguarda de espada em punho o bando de guerreiros. Akane (Rinko Kikuchi), a doppelgänger, acerca-se do cadáver da filha (?). Duas mulheres que são uma só na ilustração de mãe – o próprio genérico o enfatiza.
Maeve: You can’t keep doing this to us, giving us people to love and then getting upset when we do.
Lee: But it’s just fucking code.
Maeve: You’re wrong. I’m coded to care about nobody but myself, and yet here I am, willing to risk my life for someone else.
Ainda antes das personagens apontarem as incontáveis semelhanças entre mundos, já se desenha um sorriso no rosto assim que a soberba cover instrumental de “Paint It, Black” se faz ouvir. Faixa sonora que remete de imediato a uma associação entre pontos geográficos e personagens que se limitam a uma mudança de traje. Sabe-se de imediato aquilo a que se vai. Uma irrepreensível banda-sonora que demarca espaços e personagens, tornando-as gradualmente indissociáveis das faixas sonoras que as apresentam e acompanham.
Houve de tudo um pouco na primeira incursão a Shogun World, indo desde um ataque de ninjas a uma belíssima dança que culmina num espectáculo de gore que tão bem caracteriza a cultura japonesa. Maeve adquire uma nova habilidade que a delineia como máquina de guerra perfeita. Uma “nova voz” despertada na interacção com a sua doppelgänger?
A construção do cenário bem como uma apresentação que ressalva paralelismos entre parques/mundos. A interacção entre personagens. As peripécias que não avançam o arco narrativo de Maeve, mas que ainda assim a engrandecem nas habilidades. Tudo funcionou às mil maravilhas. Bem, quase tudo. “Westworld” já exibe um comic-relief a rebentar pelas costuras, por muito desadequado que por vezes possa ser. Recorrer a este jogo de diálogos usados, reciclados, abusados, antiquados, só ilustra a sua ocasional habilidade em resvalar num amadorismo de escrita que a faz cair degraus abaixo. Em pleno 2018, e num produto deste calibre, há que saber o que riscar:
Sylvester: Can’t you…say something to them?
Felix: I’m from Hong Kong, asshole.
Se é certo que Shogun World merecia um episódio que lhe fosse inteiramente dedicado, a verdade é que este partilhar de atenção com as “cavalgadas” de Dolores (Evan Rachel Wood) acaba por funcionar da melhor maneira. Também em Westworld se aborda o quê de genuíno num elo de ligação inicialmente fruto de código. Pela primeira vez na temporada, sem a matança desenfreada, sente-se o devido tempo para que a personagem respire e reavalie as peças em jogo. Dolores volta a suscitar algum do interesse que lhe fora constante na primeira temporada. Notam-se agora conflitos internos que vão além do robótico e unidimensional. Extingue o velho Teddy (James Marsden) que outrora lhe prometera o horizonte (o “someday” que o caracteriza), fazendo nascer no seu lugar peão implacável na guerra por vir. Uma louvável reviravolta que dita o fim de Teddy como bem o conhecemos, pelas mãos da mais improvável adversária.
To grow…we all need to suffer.
A passagem por Sweetwater dá-se cheia de pormenores deliciosos – o rolo de pianola manchado por sangue; os andróides ainda perdidos no seu loop no interior do saloon – e alimenta a memória para a associação ao cenário de Shogun World. À semelhança do episódio anterior, “Akane no Mai” volta a beneficiar de uma progressão narrativa bem menos dispersa em motivos, tempo e espaço.
Finalmente de regresso à série (espero que desta vez seja para terminar a temporada :D)…
Foi um episódio bastante competente, principalmente no parque dedicado ao Japão (espero mais episódios dedicados a este mundo).
Parece que a Dolores está de regresso, ela que tem estado mais apagada nesta temporada…
Banda sonora em grande plano, excelente mesmo. Ainda pensei que fossem incluir alguma versão do album Shogun de Trivium, ahahah (o próprio Matt Heafy é fã da série :D).
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