Rebelião em silêncio.
Esqueçam todas as tentativas de June (Elisabeth Moss) em contornar as directrizes do regime. A verdadeira rebelião, aquela que promete vir a deixar marca indelével a longo prazo, chega nos últimos segundos pelas mãos de uma outra handmaid de destaque bastante secundário. Ainda que não chegue a dar-se nas mãos de uma anónima, é revigorante ver que há possíveis contra-ataques para lá da actual dormência exibida pela protagonista. Acto de uma só em prol do uniforme. Importante ponto de viragem para “The Handmaid’s Tale”? A dar-se realmente a morte do Commander (Joseph Fiennes), traz consigo a maior mudança de dinâmica na casa-prisão dos Waterford, para o bem e para o mal. A confirmar-se, conduz ao desuso do nome Offred.
Um dos episódios que melhor distribui tempo de antena por entre as várias personagens, “First Blood” recua pela primeira vez na temporada à dinâmica outrora vivida por Fred e Serena (Yvonne Strahovski). Apesar da posição de inferioridade que a sociedade lhe aponta, Serena é a mulher por detrás do homem. Já o sabíamos, é certo, mas não deixa de ser curiosa a extensão desta sua influência: You stop that. Stop it and be a man.
Em conjunto com a sua subalterna, Serena beneficia da melhor caracterização na série. Vilã subtil, cinzenta, duvidosa nos quereres e nas vias para os atingir. Impõe respeito, e no entanto retrai-se em plena consciência de June reter algum poder. É nesse constante contrabalanço que se constrói a sua aura de ameaça. Uma imprevisibilidade em postura e acções, que a tornam fascinante de acompanhar.
Eden: Blessed day.
Serena: Blessed day. How are you this morning?
Eden: Fine, thank you. (dirigindo-se em seguida para June) Blessed be the fruit.
A escrita que conduz “The Handmaid’s Tale” é exímia na forma como se expressa em silêncio ou no simples proferir de frases feitas. Eden (Sydney Sweeney) entra em cena com o típico cumprimento matinal, mas quando se dirige a June o cumprimento sofre metamorfose para uma outra frase-chave. Sem nunca o ser efectivamente dito, June ganha consciência dos acontecimentos da noite passada.
June: May the Lord open.
Escrita discreta que faz uso de um dicionário distópico e que consegue dizer tanto com tão pouco.
Preciso de mais tempo de antena dedicado à Serena, que personagem fascinante.
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É realmente uma personagem muito complexa, flutuante e questionável nas decisões tomadas mas sempre com um objectivo inabalável em mente, esse seu ponto fraco. Muitíssimo bem caracterizada.
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