Tu levas um tiro. Tu levas um tiro. Tu levas um tiro. Todos levam um tiro!
Regressa a matança em todo o seu “esplendor”. Na temporada que vende as repercussões reais dos actos, voltam a distribuir-se balas por cada corpo que ouse mexer. É essa a renovada experiência “Westworld”, comando a um espectáculo pirotécnico que falha em convencer o espectador de uma nova fasquia instaurada aquando do despertar das máquinas. Não só pelo chafurdar das personagens no caricaturesco, mas acima de tudo por uma necessidade constante de encaminhar os nossos heróis a becos sem saída, dos quais saem, uma e outra vez, com um mero penso na ferida. É mais do que expectável que não se livrem definitivamente de personagens-chave como William (Ed Harris) e Maeve – quão coxa ficaria “Westworld” sem o foro emocional de Thandie Newton? -, mas há que saber quando parar de relembrar o espectador de que se tratam de personagens que tão cedo não veem o fim da linha. Porque a ideia actual deveria ser a de promover uma guerra que não escolhe fechar os olhos a este ou aquele só porque exibem estatuto de personagem. Se realmente não há cojones para que o façam, então o melhor seria que optassem por se retrair nesta incessante intenção de lhes apontar armas. Perigo real? Assim se proclama incontáveis vezes, na boca deste e do outro. A verdade é que nada disso passa para este lado. Não basta eliminar anónimos em catadupa para que se sinta que o mesmo se pode estender a personagens de relevo. Ainda mais prejudicial se torna ao tratar-se de uma série que não abraça o quê de definitivo e irreversível característicos da morte. Há sempre uma outra pele pendurada no roupeiro pronta a vestir.
“Les Écorchés” parece querer ambicionar ser ponto de viragem nesse sentimento de que a partir de agora tudo se irá gerar com devido peso e medida. Sem backups – uma pena que Angela (Talulah Riley) não tenha sido melhor aproveitada na primeira temporada –, introduz-se a promessa de que a morte chega para ficar. Uma nova directriz que virá a conduzir ao corpo descartado de Teddy (James Marsden). Fim dos loops, da hipótese de retorno ao imaculado início. Noção de “imortalidade” da qual se veem livres, tão ambicionada pela frente de guerra oposta. É esse o projecto secreto da Delos que tem vindo a ser mencionado no curso da temporada. Réplicas dos guests conseguidas através de observação sem o seu consentimento. Voyeurismo que visa trazer ao de cima aquilo de que se é capaz de ser quando removidas as amarras morais. Ao 17.º episódio, a ideia base de “Westworld” sofre metamorfose, sendo afinal os guests as variáveis a ter debaixo de olho. Mudanças mínimas nos loops dos andróides com o condão de alimentar uma maior amostragem no estudo das interacções com os guests. Com que objectivo? Depois da morte efectiva em corpo humano, a consciência “reacende-se” na réplica andróide criada à imagem do original? Delos vende a vida eterna sem amarras morais. Ou pelo menos a ideia de, havendo ainda a ultrapassar a dissonância entre corpo e mente. Reunião de almas num além apropriadamente referido como “The Valley Beyond”. Independentemente daquilo que se venha a encontrar, é para já o ponto no mapa para a grande maioria dos peões em jogo. Como é que Dolores (Evan Rachel Wood) pretende fazer disto uma “arma”, tratando-se de corpos que se deterioram passados alguns dias?
Não obstante todos os seus deslizes na presente temporada, “Westworld” continua a saber explorar da melhor maneira essa gradual perda de inocência que caracterizara o percurso de Dolores no primeiro ano da série. Dá-se agora um outro passo nesta sua procura da liberdade com a retirada de cena do pai. Um quebrar de amarras que tanto a diferencia e distancia de Maeve. Vive-se naquela maca um pouco da emoção que teima em ausentar-se da temporada. Sim, é certo que o seu salvador se encontra já ali a uns passos de distância e que, como tal, o receio se mostre infundado, mas não deixa de ser o primeiro momento em que se sente realmente algo, medo por uma personagem que faz por ir além da postura racional do espectador. Maeve, sempre Maeve. Comporta uma aura bastante eficaz – do aspecto físico à música que a caracteriza -, denunciada como um ser bastante forte e ainda assim frágil pela sua insistência no papel de mãe. É nessa fragilidade, nesse calcanhar de aquiles (I made a promise), que reside a magra fatia de emoção num produto tão cerebral como “Westworld”. Há que encontrar um contrabalanço saudável entre os laivos tresloucados de ficção científica e as acções que humanizam e dão profundidade aos indivíduos a acompanhar.
Se a primeira temporada servira para a nossa Alice resvalar no negro de si mesma, esta que se lhe segue acerca-se de Bernard (Jeffrey Wright) e a sua transmutação naquilo que a guerra pede. À semelhança do sucedido com Teddy, aqui a noção de livre arbítrio molda-se em serviço do bem maior. Teddy sofre metamorfose pelas mãos de Dolores. Ford (Anthony Hopkins) toma controlo da possibilidade de escolha de Bernard. A guerra de “Westworld” espezinha os fracos e faz ascender Dolores como postal do negro. Não deixa de ser irónico que no caso de Bernard e Teddy, a tão prometida liberdade se veja ainda indirectamente comandada pelos humanos, pelo simples facto de se mostrar inútil ao fazer-lhes frente.
Ford: Unless we open the door.
Temporada entre estados. A destruição como base a um admirável mundo novo?
Uma das coisas que me irrita nas séries é essa mania de colocarem o ou os protagonistas em perigo extremo para depois se safarem de forma pouco credível.
Se em relação ao William ainda se percebe que possa ser um comando qualquer do Ford que impede os “hosts”de o matarem já em relação a Maeve não faz muito sentido. Vemos “hosts” a morrerem com um ou dois tiros e Maeve leva uma rajada e não morre? Não gosto destas coisas.
Tiros certeiros mas depois não conseguem impedir que os outros dois fujam pelo elevador. Bah
Tirando isso, foi um bom episódio de Westworld.
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Já perdi a conta de quantos tiros o William levou. Desde a temporada passada quando a Dolores lhe partiu o braço e a Clementine lhe deu um tiro…wow…no braço, que esse é cada vez mais o membro de eleição. Precisam-se de workshops de tiro em Westworld.
Tal como tu também não gosto nada desta situações em catadupa. É certo que tão cedo não se livram de certas personagens, mas então que não as coloquem nessas situações inescapáveis. É o constante piscar de olhos ao espectador “Olha olha estamos a salvar a tua personagem”. Irrita-me ainda mais numa temporada que constantemente aponta que agora é que a sério, é um tiro da série no próprio pé, semana após semana. Adeus Angela? Clementine? Fucking Lawrence? Who cares. Isso nunca se vai estender a tantas outras personagens. Com tantas situações como estas já não sinto receio algum pelas personagens, o que para mim é sempre um ponto muito negativo. Pegando em GoT, por exemplo, uma certa ressurreição foi um ponto de viragem para mim, pela negativa.
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Nada a acrescentar… Algumas personagens morrem com um tiro, outras nem com 4 ou 5… Depois a pontaria varia entre o infalível e o inacreditável (a mesma personagem passa do 8 ao 80 num piscar de olhos). Não é um problema apenas desta série, chega a ser completamente ridiculo assistirmos, em incontáveis séries, aos meus problemas…
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