I’m sorry there is so much pain in this story.
Uma nova oportunidade de fuga deitada por terra, desta feita por opção da própria June (Elisabeth Moss). Até quando “The Handmaid’s Tale” pode usar e abusar deste abrir e fechar de janelas de oportunidade como engodo narrativo? Por enquanto não chega a exibir-se como fraudulenta, mas a longo prazo corre o risco de se vir a tornar mera masturbação das emoções do espectador. A entrega de June é uma escolha sua, entre as poucas que ainda pode exercer num regime que lhe abafa a individualidade. A arma que aponta aos Waterford e cujo gatilho não chega a premir, é outra escolha que parte de si mesma. Naquele instante, June hesita somente pela sua incapacidade em roubar uma vida? Ou será que as palavras de Serena (Yvonne Strahovski) pesam mais do que deveriam?
I only ever wanted a baby.
Serena continua a mostrar o porquê de ser uma das personagens mais fascinantes de 2018. Ao ver-se distante das regras que outrora ajudou a formular, sucumbe às emoções primárias. Naquele momento deixa de existir o fosso que a demarca e inferioriza em relação a Fred (Joseph Fiennes). É em pé de igualdade que traz à tona o desdém que nutre pelo Commander.
You are such a fucking idiot.
Fuck! When did you become such a bitch?
O tão aguardado e não menos temido momento dá-se em “Holly”, por entre uivos e gemidos. A edição intercala o presente com flashbacks não só do primeiro parto de June mas também do nascimento da filha de Janine (Madeline Brewer). O único apoio de June dá-se através dessa alternância entre momentos dispersos no tempo, como que invocados pela mente da protagonista. A dor que se compartilha no feminino. A supremacia de Gilead adormece momentaneamente para dar lugar ao elo que interliga as mulheres na missão da maternidade.
By telling you anything at all, I’m believing in you. I believe you into being. Because I’m telling you this story, I will your existence. I tell. Therefore, you are.
“Holly” é mais um colosso nas lides da fotografia, alternando entre interior e exterior com o mesmo senso de desolação que caracteriza a hora televisiva na totalidade. Minimalista no espaço a conter a acção, é capítulo que exibe um quê de pós-apocalíptico que obrigatoriamente acciona o instinto de sobrevivência. No mesmo ponto geográfico em que lhe foi roubada a filha pela segunda vez, June dá as boas-vindas a uma outra prestes a ser-lhe igualmente retirada dos braços.
Mais um episódio muito bom, com uma Serena cada vez mais dominante (a transformação da personagem ao longo dos episódios tem sido brilhantemente trabalhada). Os planos aéreos da série são de uma qulaidade tremenda, merecem o devido destaque.
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