Após uns meses de interregno forçado, aqui vem um especial arreliador temático a cada uma das áreas às quais normalmente destilamos mel e fel.
Hoje, só coisas Boas…
O Bom
Oásis no deserto artificial
Muito pouca televisão nestas longas semanas. Mas com alguns ligeiros momentos de relax, pouco exigentes apenas para descomprimir. A dieta foi essencialmente à base de sitcoms. E aqui reparei que muito pouca coisa nova foi aparecendo. Portanto, foram só clássicos e semi-clássicos mais ou menos recentes, mais ou menos consolidados.
E dentro daquilo que existe, apenas duas séries me foram enchendo as medidas: “Brooklyn 99” e “Life in Pieces”.
No caso de “Brooklyn 99” destaca-se a coerência na proposta e o sentido de humor por vezes absolutamente louco. Quando menos se espera lá salta uma situação idiota com uma punchline completamente inesperada. “Life in Pieces” é, assumidamente, um dos meus prazeres televisivos. Gosto muito desta sitcom, para mim a melhor do actual panorama televisivo. Certo que já perdeu a frescura da primeira temporada, mas continua a ser inventiva, imaginativa e a pisar o risco muitas, muitas vezes, saindo-se quase sempre bem. Acho que tem sobrevivido graças a uma base relativamente reduzida de fãs que não serão da típica classe média americana e que, mesmo assim, é suficiente para aguentar a série. Se fosse mais massificada e transversal ao estrato norte-americano, já teria sido crucificada pela idiotia dos vigilantes dos costumes e moral, em virtude de algumas sequências humorísticas duvidosas.
Milagres fora da Igreja (ou como se continua o tópico anterior sem que seja para encher chouriços e chouriças)
A salvação in extremis de “Brooklyn 99” é um daqueles milagres, que nos levam a proclamar bem alto que o Natal chegou bem cedo. Neste caso no Verão. Bom, na realidade é um Verão que, tal como o Natal, ainda não chegou.
A alegoria da Caverna vista por um ecrã
O regresso de várias séries de qualidade, que, não tendo encantado tanto como anteriormente deixou fãs/críticos a salivar. Ou seja, “Westworld” e “The Handmaid’s Tale”. Não consegui (ainda) acompanhar como devia, mas uma é muito boa, a outra é superlativa.
O fim anunciado e proclamado das seasons televisivas
Houve uma altura em que as séries de qualidade tinham calendário anual claramente definido. Era quando as pessoas tinham mais propensão a ficar em casa. O período de Verão era uma verdadeira silly season. Actualmente, com a alteração dos hábitos de consumo audiovisual tudo se alterou, e agora não há semana na qual não sejamos surpreendidos com uma boa/excelente série televisiva. Estas últimas semanas têm sido assim…
Claro que apresenta um problema: deixámos de ter o Verão para nos pormos em dia com o que de bom se fez e nós não conseguimos acompanhar.
A volta ao Mundo na Rússia
A cobertura televisiva do mundial pareceu-me mais sóbria do que é normal. Talvez por ser longe, num país relativamente fechado, talvez porque estivemos em ebulição com o Sporting vs Bruno de Carvalho contra o mundo, talvez porque tivemos uma equipa de futebol perdida numa caverna com uma missão de salvamento épica.
Não sei porquê, mas esta entrada parece-me um resumo de vários livros do Júlio Verne: “Miguel Strogoff” (passado na Rússia imperial), a “Volta ao Mundo em 80 Dias”, e “Viagem ao Centro da Terra”. Só faltaria a menção a Trump para incluir “Viagem à Lua”. Tão bons, aqueles livros. Ideais para o Verão que não mais chega…
As belas noites de risota
Dentro deste período de consumo fácil e pouco exigente, deambulei igualmente pelo late night que, nos EUA, é uma arte em forma de comédia. Talvez mais imaginativas que grande parte das sensaboronas sitcomedys. Colbert é cada vez mais vintage, conseguindo maravilhas politicamente incorrectas num canal aberto; Samantha Bee tem um humor selvagem (que já lhe arranjou problemas); Oliver para mim é o melhor com um humor impiedoso e invejável; Trevor Noah tem momentos e Seth Myers não se leva tão a sério quanto devia.
E continuo a ter para mim, que a grande oposição a Trump e à cada vez mais evidente e perigosa deriva americana se faz aqui.
Quando o número treze tem tanto de azar como de sorte
Doze miúdos e o seu treinador ficam presos numa gruta. Inicia-se uma missão de salvamento épica que dará – de certeza – um filme e/ou uma série. Autoridades e voluntários precipitam-se para uma das mais épicas missões de salvamento de que há registo. E os jornalistas, misto heróis da informação e abutres da emoção enxameiam o local.
Houve exageros, reportagens de puxar à lágrima, tentativa de criar heróis efémeros. mas também sentido de missão, profissionalismo, sobriedade. No entanto, não me parece que seja uma nota de esperança num jornalismo sério. Sou mais pessimista. Acho que tal distanciamento profissional e aparente sobriedade se deve ao facto das autoridade tailandesas terem afastado os órgãos de comunicação social para um perímetro no qual não poderiam fazer estratgos.
E quem não tem imagens da desgraça, trabalha com os ecos da esperança.
Não consigo falar de toda a aventura dos pequenos “javalis” sem me emocionar, talvez por conseguir sentir o pânico de me ver fechado naquelas paredes estreitas… Sim, houve aproveitamento mediático por parte da CS mas, bolas, hoje em dia ainda alguém se surpreende?
A união de todos aqueles voluntários…o sentimento de missão cumprida de todos aqueles bravos deve ser uma coisa absurdamente incrível. Herois.
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