“Things don’t just happen. People make choices. They want things, and then they go for them.”
Os anos 80 não estão só de regresso nas roupas: ultimamente, parece que não é possível escaparmos àquela que foi uma das melhores décadas de sempre. De “Stranger Things” a “The Americans”, de “The Goldbergs” a “Halt and Catch Fire”, há séries saudosistas de todos os géneros e para todos os gostos. E “GLOW”é a mais recente a entrar para o meu top de preferências.
Esta crítica chega já tarde a más horas, visto que a série estreou o ano passado, mas como estamos numa época de grande televisão, quase nem sempre sobra tempo para acompanhar todas as veteranas, quanto mais para vermos todas as novidades que vão estreando. Foi por isso que as Gorgeous Women of Wrestling acabaram por ficar para segundo plano. Mas agora não houve como escapar. E em boa hora as descobri, pois ajudaram a dar algum colorido a estes dias deprimentes de gripe.
A história não é muito original: baseada num documentário, “GLOW” apresenta a história de um grupo de mulheres que criaram uma liga de wrestling profissional. Produto dos anos 80 que sou, era impossível não conhecer alguns dos nomes mais sonantes da WWE, que dominava alguns horários da programação infantil, mas confesso que nunca achei piada aos combates entre homens oleados e com trajes esquisitos. Era coisa mais para rapaz, pensava eu… Pois bem, parece que estava enganada, pois tudo o que nos é apresentado em “GLOW” é fascinante para ambos os sexos: das roupas às personagens criadas, dos treino as golpes e às apresentações públicas, nunca o wrestling foi tão cativante como nesta série.
Claro que, para isso, muito contribuiu estarmos não só a ver o produto final, mas também a conhecermos as mulheres por trás das máscaras, percebendo o que as motiva, vendo a forma como as suas vivências influenciam (ou não) as suas personagens. Começamos a série a ver este mundo pelos olhos de Ruth (uma Alison Brie fascinante), uma jovem actriz que procura, em vão, um papel que lhe encha as medidas, mas rapidamente percebemos que o foco não será só nela, mas sim também nos seus companheiros de aventuras, especialmente de Carmen, filha e irmã de estrelas do wrestling, Debbie Eagen, uma ex-estrela de telenovelas que teve de abdicar quando se tornou mãe, e Sam Sylvia, o realizador sarcástico que preferia continuar a fazer filmes B do que a lidar com um bando de mulheres inexperientes em lutas. Uma das forças da série é conseguir construir a história principal – a criação desta liga, destes os castings aos primeiros treinos e até à estreia frente ao público – e, ao mesmo, de ir desenvolvendo as diversas personagens. Ao bom estilo de “Orange is the New Black” (ou não fosse Jenji Kohan uma das produtoras), personagens que começam como apenas figurantes, vão-se revelando com o passar dos episódios, acabando por mostrar ser bem mais cativantes do que algumas vez poderíamos pensar, como é o caso de Sheila, the She-Wolf.
Com o passar dos episódios, vemos não só as inexperientes mulheres perceberem que esta liga pode mesmo ter algum futuro, mas também que é umas nas outras que se poderão apoiar para lidarem com os golpes que recebem da vida real. E que se as amizades que se vão aqui formar serão importantes, é a reconstrução de uma amizade destruída por um erro grave, que será aquela por que não se hesitará em lutar.
“GLOW” é a hilariante história da o wrestling feminino nos Estados Unidos. E é também a história de um grupo de mulheres que tenta encontrar o seu lugar no mundo. É, simplesmente, uma série a não perder.