“Who is The Turd Burglar?”. São das premissas mais ridículas, aquelas que encontramos em “American Vandal” e, no entanto, a série do Netflix é uma das melhores comédias da actualidade. Mais do que o humor corriqueiro resultante dos actos de desenhar pénis em carros ou causar uma caganeira geral, é no sóbrio e acutilante reflexo social que estas histórias se transcendem.
Com a crescente popularidade das séries documentais de cariz criminal, a dupla Dan Perrault e Tony Yacenda pegou no conceito e transformou-o em paródia. São (agora) 16 episódios (oito por cada temporada) em que em cerca de quatro horas humor e suspense convivem como se fossem velhos conhecidos, pois, por mais ridícula que soe a premissa, e por mais que a série faça questão de exibir com orgulho os pergaminhos de spoof, adopta uma postura sóbria e evita deixar-se cair num descontrolo humorístico.
Aquilo que nos mostra não é real, e todos o sabemos, mas a forma como é produzida vende-nos essa ideia de forma exemplar. A isso ajuda muito o elenco, composto por praticamente apenas desconhecidos, mas cuja prestação é tão bem dirigida que facilmente se acredita que estamos mesmo perante um documentário. Há ali toda uma naturalidade na apresentação de ideias, na exploração dos factos, que se sente orgânica e realista, deixando certamente na dúvida quem tem um primeiro contacto com a série se o que está a assistir aconteceu mesmo ou não. O limiar entre ficção e realidade é tão imperceptível que só a premissa denuncia que estamos perante comédia.
Mas mais do que a estrutura ou o género, é na forma como “American Vandal” pega num acontecimento ridículo para transmitir uma mensagem muito forte relativamente ao desenvolvimento das novas gerações, tão “manipuladas” pela influência das redes sociais, que a série se sobressai. É aí que se despe do fato de spoof e passar a envergar a camisola da sátira, fazendo comédia com um propósito, não gozando só pela piada do gozo, nem criticando sem fundamentar a sua posição. E mesmo quando é óbvia na explanação das suas ideias, não perde força.
O género spoof ganhou má reputação nos últimos tempos (década/s) sobretudo graças aos irmãos Wayans, mas “American Vandal” é a prova provada de que um género não morre por má representação. Apenas precisa de quem lhe dê a credibilidade que merece.
Gostei da temporada, e achei o desfecho muito bom – especialmente com todas as considerações que faz sobre as redes sociais. Mas senti falta de um elemento mais forte no elenco, como o Dylan Maxwell da primeira temporada…
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