“Manifest” é a primeira nova proposta de ficção científica/mistério desta temporada televisiva norte-americana e parece não ter aprendido nada com os erros das suas predecessoras. Aliás, há quase como que uma maldição partilhada entre quatro dos cinco principais canais em sinal aberto norte-americanos (*), em que séries do género falham sucessivamente em convencer as audiências graças a cometerem o mesmo tipo de erros. Exemplo disso, é que tudo o que poderíamos escrever sobre “The Crossing” aqui há uns meses poderíamos voltar a escrevê-lo hoje sobre “Manifest”.
(*) Concretamente ABC, CBS e NBC, com a FOX no limbo, uma vez que uma ou outra ainda se vão safando pelos pingos da chuva; das cinco, a CW é a única que tem sabido gerir com algum sucesso as suas incursões no género.
O maior problema é claramente uma ilusória tentativa em inovar, de tentar ser minimamente original, pegando em vários elementos para construir narrativas credíveis. Mas os resultados sentem-se como uma autêntica manta de retalhos, retirando-lhe boa parte da credibilidade que almejavam.
Vejamos “Manifest”: um avião chega ao seu destino cinco anos depois da partida, apesar dos passageiros não terem sentido a passagem do tempo (nem percepcionalmente nem fisicamente). Depois do regresso a casa, começam a ouvir vozes premonitórias de acontecimentos trágicos que os vão ajudar a evitá-los ou resolvê-los e, apesar de serem completos desconhecidos, agora partilham algo que os diferencia do resto da Humanidade. Como esperado, essa experiência comum, bem como a necessidade em ocultá-la das outras pessoas, vai aproximá-los. Enquanto isso, as autoridades tentam desvendar o mistério.
Há pouco de novo aqui e, pior que tudo, nada que incentive um regresso à série semana após semana. Nem quanto ao mistério, porque séries como esta sentir-se-iam minimamente interessantes há 15 anos, mas hoje não fogem ao estigma das suas inspirações. Há ali pedaços de “The 4400”, “Lost”, “Heroes” e mais outras tantas, numa composição frágil onde se nota o afrouxar dos pontos mal cosidos entre retalhos. Nem quanto às personagens, porque estas, à semelhança de outras de séries similares, são tornadas reféns da sua própria história, sem espaço para crescer além das condições especiais que lhes são atribuídas.
Uma pequena explicação para a minha nota ao piloto de “Manifest” na rúbrica “Estreias em linha”: achei o piloto competente. Não surpreendeu (o que, aliás, seria quase impossível visto tratar-se de um tema já batido noutros locais) mas achei que foi bem feito, bem interpretado e que conseguiu apresentar a sua premissa de forma correta. Posto isto, a verdade é que não vou acompanhar a série. E porquê? Porque embora tenha tido uma estreia competente, a premissa está, por demais, batida, o tipo de mistério idem, e o sucesso (ou insucesso) da série também me parece ponto assente. Ao longo dos anos vi várias séries deste estilo, algumas com mais outras com menos interesse. E já me chegou. Fico pelo passado, e deixo para os novos serieólicos, que acham tudo isto uma novidade, a visualização da série.
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Como é um tipo de trama que me dá muito gozo fico sempre expectante quando surge uma nova série que o aborde. Mas compreendo e concordo com o que dizes.
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