Desde que entrámos na chamada “época de ouro” da televisão que há muita tendência para dizer que uma série, por ser tão boa, é mais como se fosse um filme. Deixando de lado o facto de que os telefilmes já existem há muito, esta mania de considerar o cinema superior à TV é, nos dias que correm, cada vez mais difícil de defender, tendo em conta a chegada em massa de grandes estrelas de Hollywood à TV. Mas e se, de repente, uma série contrariasse esta tendência? E se, uma série realmente fosse como um “pequeno filme”? Pois bem, parece finalmente temos isso, e o seu nome é “The Romanoffs”.
A série que marca o regresso de Matthew Weiner, o Sr. Mad Men, à televisão, é uma antologia de oito episódios, cuja premissa é apresentar-nos histórias atuais de supostos descendentes da família real russa assassinada no início do século XX. A premissa é clássica, e já deu azo a grandes histórias. Infelizmente, e a julgar pelo piloto, esse não vai ser o caso aqui.
Em “The Violet Hour” conhecemos Greg, um expatriado americano, que tem de lidar com uma tia francesa. Greg passa tempo a tentar agradar aos que os rodeiam: à tia Anushka, uma grande-dame idosa, hipocondríaca e racista, que se recusa a sair do mundo de fantasia que tem no seu maravilhoso apartamento, e à insistente namorada Sophie, que só quer é que Anushka morra para os deixar tirar férias em paz e para herdar o apartamento. Se Anushka e Sophie são duas personagens bastante desagradáveis, a inércia de Greg também não ajuda muito à história, mesmo com um Aaron Eckhart a dar tudo por tudo e a dar provas de que o tempo que passou em França não foi desperdiçado. Salva-se desta história a jovem Hajar, uma cuidadora muçulmana contratada para ajudar Anushka, que mesmo sendo tratada abaixo de cão pela idosa, se recusa a descer ao nível dela e consegue mesmo acabar por domá-la. Os momentos em que vemos a relação de Anushka e de Hajar a desenvolver-se, com a ajuda de histórias do passado são, realmente os melhores da série. Infelizmente, o último terço do episódio, com a decisão de Anushka e a reviravolta final, digna de uma qualquer novela, acabam por estragar tudo o que o episódio tinha conseguido. Não há grande explicação para as ações de Hajar e, muito menos, para a escolha de Greg, deixando-nos com a sensação de que não havia um plano muito claro desde o início, que o mais importante era a forma como a história nos era apresentada, e não o seu conteúdo.
Escrita por um dos nomes mais conhecidos da TV dos últimos anos, contando com nomes sonantes no elenco (para além de Aaron Eckhhart, ainda vamos poder ver Diane Lane, Christina Hendricks, Isabelle Huppert, Noah Wiley e muitos outros) e possuindo uma imagem muito cuidada, complementada pela riqueza os locais em que foi filmada, “The Romanoffs” tem, realmente, aquele “je ne sai quois” que lhe dá um ar de filme e tinha tudo para ser mais um marco para esta época de ouro da TV. Infelizmente, tendo em conta esta estreia, parece que as nossas expectativas vão sair um pouco furadas. Honestamente, acho que preferia ter ido rever a outra Anushka.