Nu (T1): Nas garras do voyeurismo

O texto que se segue NÃO CONTÉM SPOILERS

Liberté. Égalité. Nudité. Em 2026, após oito anos em coma, um polícia acorda para encontrar uma França (aliás, uma Europa, excepto o Reino Unido graças ao Brexit) completamente nua. Este é o ponto de partida de “Nu”, série francesa do OCS Max que se propõe a usar a nudez como ferramenta de crítica social.

O terrorismo é a temática que serve de base à premissa de “Nu”. Se andássemos nus, em total transparência, sem nada a esconder (excepto ideologias…), seria possível um mundo mais seguro e menos violento? É esta a pergunta que a série francesa, estreada em Junho deste ano, pretende, de alguma forma, responder.

Assenta numa forte crítica social, a qual explora com relativo sucesso, mas espalha-se em termos da credibilidade. Primeiro, porque quer à força separar o inseparável, ou seja, tornar a nudez independente da sexualidade, sem contemplar os impulsos, especialmente daqueles dependentes das hormonas, sobretudo em idades adolescentes (aliás, a série não tem um único personagem que não seja adulto talvez mesmo para evitar alguns constrangimentos). Segundo, porque politicamente seria impensável um Governo decretar a obrigatoriedade de que os seus cidadãos passassem a andar nus sem que houvesse como consequência qualquer tipo de convulsão social. Terceiro, porque ignora questões tão básicas como o clima (porque os humanos não usam vestimentas só por vaidade ou devido a complexos) de forma a fazer o mínimo sentido. 

Fora a premissa incredível, a série estabelece-se como algo mais do que um mero exercício de voyeurismo ao fim de quatro ou cinco episódios (nos quais o protagonista e nós somos um e, tal como ele, se torna necessário aprender a viver com esta nova realidade), definindo que as imposições políticas e sociais não são mais que meras condicionantes à liberdade individual.

Mas, por mais forte que seja a mensagem que quer transmitir, há forma de abordar e qualificar a série sem ser pela questão da nudez? O problema de premissas minimamente originais é que facilmente se sujeitam ao escrutínio tendo em conta aquilo que as dota de originalidade. Neste caso, não será tanto conteúdo mas mais pela ousadia. É preciso coragem para usar aquele que é um dos maiores tabus sociais em prol de uma história, mas não será de estranhar que a narrativa se torne refém do seu próprio arrojo.

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